A Vós a Razão
As Diferenças nos Semelhantes
*Por Faimara Strauhs
O país, Portugal, eu escolhi pela proximidade da cultura e da língua. Imaginava que aqui não teria problemas para entender todos os tons e nuances do idioma, afinal também falo Português. Descobri logo, à partida, não ser bem assim, falo diferente e venho de um Brasil pouco conhecido aqui. A cidade, Porto, e o local, INESC Porto, fui escolhida por eles, não tenho dúvidas. Quanto à cidade, sou de Curitiba, região sul do país, considerada a capital mais fria e chuvosa entre as 26 capitais brasileiras. Com uma média de 8ºC no inverno e 26ºC no verão, em Curitiba todas as estações se alternam em um mesmo dia, independente do mês ou da estação oficial do ano. Não temos, felizmente, o vento do Porto, que faz a chuva vir de todas as direções. Entretanto, Curitiba, com seus quase dois milhões de habitantes, considerada em 2007 a quarta melhor cidade do mundo para se viver, por revistas internacionais, não tem Serralves, o Douro e suas pontes, a Ribeira e seu casario e o mar.
Em relação ao ambiente de trabalho, venho da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, onde fiz quase toda a minha formação, do ensino de nível médio ao Mestrado. A UTFPR é a primeira universidade tecnológica do Brasil, mas tem apenas cinco anos de existência. Sua origem, no entanto, foi o Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná – CEFET-PR, que completou 100 anos em 2009. A UTFPR, enquanto ainda CEFET-PR, instituiu uma pioneira Diretoria de Relações Empresariais que, desde a década de 80, no século passado, estabelecia e fomentava as parcerias com a comunidade industrial e empresarial, diretoria à qual tive a oportunidade de pertencer nos anos 90. Portanto, aqui no INESC Porto, e no Porto, sinto-me quase em casa, em relação ao clima e ao local de trabalho.
Ao ser aceite para meu estágio pós-doutoral, com agilidade comecei, no entanto, a perceber nossas pequenas diferenças. Venho de uma estrutura universitária onde o formalismo e a hierarquia tornam-se empecilhos graves. A estrutura com que me deparei no INESC Porto, que garante autonomia para interagir e negociar com o tecido empresarial e industrial, me impressionaram positivamente. Refiro-me a este aspecto em particular, pois além da carreira acadêmica e de pesquisa, atuo fortemente nas atividades de extensão, que é como chamamos às relações com a comunidade empresarial e industrial.
Restringindo-me a área de pesquisa e investigação, mas ressinto-me, contudo, de uma maior interação com meus pares. Apesar de não ser a regra, ainda me espanto com o formalismo e a rigidez nas relações pessoais: pela primeira vez, nos meus trinta anos de magistério, completados em 28 de Janeiro de 2010, sou chamada pelo meu título acadêmico e não pela minha função. Tenho um gabinete e pouca interação face-a-face com os demais colegas. Há algum tempo abolimos as paredes de muitos de nossos laboratórios de pesquisa, na UTFPR. A informação flui melhor e se cria mais conhecimento, ao meu ver, sem paredes; a proximidade e a convivência fazem emergir o respeito pela experiência, pelo aprendizado mútuo, eliminando, um pouco do ranço e da rigidez dos títulos. Por outro lado, aqui usa-se intensa e efetivamente a tecnologia, uma oportunidade imperdível de aprendizagem. Outro estranhamento foi no ritmo de trabalho. Acostumada a diversas atividades, ao rigor do relógio, sempre funcionei como um hard real-time system. Entretanto, estou a me adaptar, mais rápido do que eu gostaria admito, a uma certa flexibilidade nos horários.
O balanço, entretanto, é altamente positivo. Gostaria de firmar laços mais estreitos entre o INESC Porto, em especial a UESP, e a UTFPR. Levo esta tarefa na bagagem, quero aprender mais desta estrutura. Afinal, “minha vida é a maior empresa do mundo”, segundo Pessoa, e “posso evitar que ela vá a falência”. Basta interagir e manter viva a interface entre os vários mundos e parceiros estratégicos, um dos objetivos do INESC Porto, que pude vivenciar na prática.
*Colaboradora na Unidade de Engenharia de Sistemas de Produção (UESP)