Asneira Livre
Em Terra de Inesquianos, quem tem Sofá é Rei
Por Justino Rodrigues*
A qualidade de vida no trabalho é tema de acesos debates por esse mundo fora. Contudo, vezes há em que uma simples ideia, mas com uma eficácia inqualificável, desbarata séculos de retórica como a que há muito acompanha os comícios do PCP. Os caros leitores já perceberam que o único possível candidato a este estatuto é o sofá.
Por via oficiosa (sobre cujos detalhes fui ameaçado para que não me pronunciasse), o INESC TEC decidiu equipar a sua recente jóia da coroa – o Laboratório de Redes Elétricas Inteligentes e Veículos Elétricos – com um reputado representante da imobilidade - um sofá. O intuito, claro está, é melhorar a produtividade e o bem-estar no trabalho das pessoas que por lá se dedicam de corpo e alma à ciência (por vezes demasiado) experimental.
Cientificamente, veio-se aplicar uma lei universal que já desde há muito expande a capacidade produtiva e o conforto do Homem. É sabido que na eletricidade, a atração dos opostos (curiosamente, quase sempre o móvel eletrão que persegue o quase sempre imóvel protão) faz mover o mundo. Extrai-se naturalmente daqui, na mais sólida lógica onde a batata não tem lugar, que o imobilizador... perdão... imóvel sofá galvanizará o já de si laboratório móvel para velocidades ainda mais estonteantes no mundo da ciência.
Mas não se pense que esta medida regala somente os apologistas de esquerda, pois trata-se também na verdade de ouro sobre azul para os burgueses cá do burgo. A Direção já percebeu que o Inesquiano é um trabalhador com um grau de formação média que evidencia que não se trata de indivíduos fáceis de ludibriar. Uma possível necessidade futura de se reduzir em 1/3 os complementos de bolsa é claramente menos popular do que anunciar a cobrança de taxas de manutenção e de operação pela oportunidade de desfrutar de um descanso divinal no nosso sofá. A última estratégia soa claramente a uma troca docemente justa, com os mesmos ou até melhores resultados para as finanças Inesquianas. Trata-se de uma manobra ao mais fiel estilo de Passos Coelho, mas muito melhor executada: não se segue a exploração do vício do jogo, mas antes do sono. Este aspeto constituiu assim sem dúvida uma das razões capitais para a instalação de um sofá nas instalações do INESC TEC.
Esta medida dinamizará também o setor empresarial português, tendo sido já encomendados uma série de pórticos para portajar os diversos acessos ao Laboratório de Redes Elétricas Inteligentes e Veículos Elétricos, que não pouparão investigadores, funcionários, nem sequer ministros. Que não se preocupem os temerários dos meios de pagamento eletrónicos. Serão também instaladas nos elevadores e nos demais acessos umas maquinetas de pagamento automático que aceitam dinheiro, cartões de pontos da Galp e do Continente, e até os saldos positivos dos relógios de ponto. Tão boas são as expetativas de rentabilidade que o que o tema “SCUT” regressará ao cardápio eleitoral para as próximas legislativas. A exportação deste modelo de negócio fará eco no mundo e colocará Portugal como líder incontestável. Pensarão já os caros leitores como isto teria salvado o ex-ministro Álvaro Santos Pereira, na medida que este não teria apenas como trunfo na manga a exportação dos pastéis de Belém e de portugueses.
Assim, tanto se satisfarão os partidários de esquerda como as pretensões da burguesia cá do pedaço e arredores. Tivesse Passos Coelho sorteado sofás no lugar de Audis, e não haveria segura que valesse a Seguro. Estes segredos que pelos vistos não se aprendem nas “jotinhas”. Só mesmo no INESC TEC.
(A porta abre-se...)
Assim me levanto e despeço, que a asneira já vai longa.
*Colaborador no Centro de Sistemas de Energia (CPES), antiga Unidade de Sistemas de Energia (USE)