BABEL LEBAB
Haverá melhor metáfora alusiva à Universidade do que a Torre de Babel?
Claro que todos os familiarizados com o imaginário europeu, herdado de assírias fantasias por via hebraica, perspetivam de imediato uma turba caótica, em mil conflitos egoístas, falando a mil vozes dissonantes e desencontradas. O resultado é a desorganização e a derrocada.
E se sonhássemos com a Torre de Lebab? Se acarinhássemos, alimentássemos um processo inverso?
É assim: uma turba caótica, vivendo de discussões de mil paróquias, falando mil línguas sem se compreenderem, sem rumo e sem prédio comum, é avaliada por deus, o qual, constatando a condição desastrosa e improdutiva de tal estado de coisas, decide dar-lhes o que lhes falta: uma visão de futuro. Sopra-lhes um bafo misterioso ou faz cair sobre as cabeças de cada um labaredas que não queimam nem os tornam todos iguais uns aos outros mas os dotam de um discurso comum, uma linguagem que todos entendem e de um propósito: construir uma torre, um baluarte que os eleve ao céu. E, para assim os motivar, fornece-lhes um desígnio: o conhecimento universal que os aparente aos deuses.
Toda a Universidade, e a do Porto não escapa a essa lei, precisa de ser de alguma forma uma torre de Lebab. Precisa de um propósito, de um sonho comum, de um discurso partilhado que motive e mobilize. Precisa de acolher em si toda a variação mas em forma de entendimento, precisa de construir algo em que todos se reconheçam beneficiando da diversidade.
À nova equipa reitoral que assumiu o leme da UP, deseja-se toda a ventura para esta missão. Tem condições para isso e, certamente, receberá a colaboração empenhada e até amiga de todos aqueles, formiguinhas e formigueiros, que sonham com Lebab ou podem ser postos a sonhar.
Créditos foto: Wikipédia