SENTIR, OLHAR, AGIR
Coincidências estranhas conspiram para associar Portugal a Marrocos, mais do que se imagina.
Os sinais físicos desse entrelaçado são visíveis, materiais. Quem não admira em Portugal os castelos mouros? Quem não elogia em Marrocos a cisterna portuguesa da velha Mazagão?
Mas há mais, e mais simbólico.
Em 1184, Abu Yacub Yusuf morre às portas de Santarém. Foi o segundo califa Almóada e fez de Sevilha a sua capital, tendo-lhe legado a monumental Giralda. O seu insucesso define a travagem abrupta da ambição marroquina sobre o território de Portugal.
Em 1578, o rei Sebastião morre nos campos de Alcácer Quibir, colocando travão definitivo nas pretensões de expansão da presença lusitana no norte de África.
Cada país teve um seu rei embebendo o território do outro no seu sangue. Poderá este ser um símbolo máximo da indissociabilidade dos dois destinos. Hoje, passados tantos séculos, somos dois povos cansados de pelejar, que falam disso com a saudade de inimigos reconciliados, e com sede de amizade que compense.
Numa perspetiva prática, assinalemos que Rabat e Lisboa distam, em linha reta, 561 km. Muitos se convencem que Rabat é a capital mais próxima de Lisboa, não é Madrid - quando a verdade é que Lisboa é a capital mais próxima de Rabat, isso sim. Importa perguntar, portanto, onde está Marrocos? Porque não o vemos connosco? Porque é tão débil a nossa cooperação com o nosso vizinho?
Recebemos a visita do Ministro da Ciência de Marrocos no INESC TEC, e que fez ele? Essa mesma interrogação, virada ao contrário: onde está Portugal, que em Marrocos não existe ou se desconhece? Referia-se, naturalmente, às relações em ciência e ensino superior, mas poderia referir-se a tantos outros campos.
O INESC TEC assinou dois protocolos e comprometeu-se definitivamente com essa cooperação. A área privilegiada agora foi a da energia, mas a porta apenas se entreabriu e o potencial é imenso, noutras áreas. Assim se concretize.
Créditos foto - UNESCO
Cisterna portuguesa de Mazagão (El Jadida)