Tecnologia da música e inovação regional em destaque no INESC TEC
Eventos internacionais INESC TEC trazem centenas de especialistas ao Porto
Políticas regionais de inovação e computação sonora foram os temas em cima da mesa nos dois eventos internacionais com organização INESC TEC e que mobilizaram centenas de especialistas para a cidade invicta. O Seminário Internacional de Políticas Regionais de Inovação (RIP 2012), que decorreu nos dias 11 e 12 de outubro, e a Conferência ISMIR – International Society for Music Information Retrieval, que se realizou entre os dias 8 e 12 de outubro, são prova da capacidade do INESC TEC para catapultar a sua investigação, atraindo para Portugal eventos internacionais de alto calibre e com relevância social.
RIP 2012 – Seminário Internacional de Políticas Regionais de Inovação
Regiões no centro da discussão
As regiões e as políticas de inovação foram tema central de discussão daquela que foi a 7ª edição do Seminário Internacional sobre Políticas Regionais de Inovação, e que levou à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) cerca de 120 especialistas com ligações à academia, instituições de interface, empresas e Administração Pública, oriundos de 22 países, desde os EUA ao Cazaquistão. No encontro internacional, organizado pela Unidade de Inovação e Transferência de Tecnologia (UITT) do INESC TEC, e inscrito num ciclo de conferências da rede europeia Regional Innovation Policies, constituída pelas Universidades do Porto, de Salzburgo, Cantábria, Napier Edimburgo, Agder e de Lund, o destaque foi para o papel que as políticas pensadas para a valorização das especificidades de cada território podem assumir na construção e operacionalização de uma estratégia de inovação e competitividade para as regiões.
Como tornar as potencialidades de cada região em valor económico e fator diferenciador para a inovação gerada e promovida nas universidades, empresas e institutos de I&D; que contributos podem as políticas regionais aportar para a capacitação dos territórios; como envolver os diferentes atores regionais no desenvolvimento de uma estratégia regional comum de inovação foram o mote para as intervenções feitas nos dois dias do certame. Em destaque estiveram os discursos proferidos pelos cinco oradores convidados: Björn Asheim (CIRCLE – Universidade de Lund, Suécia), David Wolfe (Universidade de Toronto, Canadá), Knut Koschatzky (Fraunhofer ISI, Alemanha), Marko Torkkeli (Universidade de Tecnologia de Lappenraanta, Finlândia) e Augusto Mateus (Augusto Mateus & Associados, Portugal). O papel das agências regionais de desenvolvimento no Canadá e o lugar das Instituições de Ensino Superior nas políticas regionais de inovação dos países escandinavos foram alguns dos temas trazidos para o centro da discussão promovida pelas cinco sessões plenárias que constaram do Programa do evento.
Ser inovador na inovação
Para além de sessões plenárias, outras sessões paralelas compuseram um programa diversificado que incluiu ainda uma visita ao INESC TEC, nomeadamente à nova unidade laboratorial de mobilidade elétrica e microgeração, que impressionou visivelmente os visitantes. Coube a Augusto Mateus a responsabilidade de encerrar o RIP 2012. Para este docente, “quem vê a Universidade do Porto e o INESC TEC só pode acreditar que o Norte de Portugal tem potencial e baseia-se na criatividade”. É a nível regional que as políticas são mais eficazes e não com agendas “grandes, gerais e ‘bonitas’, mas que não saem do papel”, acrescenta Augusto Mateus.
E porque é a nível regional que existe mais proximidade entre decisores, passar do plano à ação é ainda mais simples. O objetivo deste encontro era confirmar que o potencial está nas regiões, tendo Augusto Mateus destacado ainda que “só assim Portugal conseguirá sair da atual crise económica”. As políticas regionais devem “inovar na inovação” adotando “uma estratégia downside [de cima para baixo] para assim ser possível encontrar melhores soluções para o desenvolvimento e com custos mais baixos”, afirma. É este o caminho para se integrar eficazmente a inovação na agenda e assim “criar coisas que sejam úteis à comunidade”, conclui. Parece ser então indiscutível a contribuição do INESC TEC para a inovação da região Norte, ao transferir o conhecimento relevante gerado na instituição – e ainda através da incubação de empresas – , conseguindo aplicá-lo de modo a promover o crescimento económico e, consequentemente, a favorecer a sociedade.
Em discurso direto
- Mário Rui Silva (Chairman do RIP 2012, Docente da Faculdade de Economia da Universidade do Porto – FEP)
“A 7ª edição do International Seminar on Regional Innovation Policies destacou-se pelo número, diversidade e qualidade dos participantes: mais de 100 elementos provenientes de cerca de 20 países, incluindo académicos com grande reconhecimento internacional e consultores de alto nível da Comissão Europeia e de vários Governos. Isto mostra a relevância das regiões na implementação e gestão de Sistemas de Inovação pois, como focado nos debates havidos, é muitas vezes ao nível da região que melhor se estruturam os clusters industriais e de serviços e é também através da proximidade entre atores que melhor se estabelecem as pontes entre o conhecimento e a economia.
Sobre este último aspeto, e falando como membro fundador da rede internacional que promove estes seminários, gostaria de referir a impressão muito forte que os participantes me transmitiram quanto à dimensão e solidez das atividades do INESC TEC no domínio da transferência de tecnologia e das relações universidade – indústria, ao nível das melhores práticas internacionais.”
- Andreia Passos (UITT/INESC TEC, organização local RIP 2012)
“A escolha do INESC TEC para a organização da 7.ª edição do Regional Innovation Policies Seminar assinala o reconhecimento do papel-chave que determinados atores institucionais podem assumir na capacitação dos territórios em que se inserem em matéria de inovação e, sobretudo, em matéria de inovação competitiva.
O INESC TEC é um centro de I&D multidisciplinar com sede no Norte de Portugal (região periférica da Europa) que granjeou reconhecida projeção internacional pelas pontes que soube construir ao longo do tempo entre o conhecimento científico e tecnológico e a economia e sociedade. Trazer um evento como o RIP 2012 para a cidade do Porto e entregar a sua organização a uma entidade incontornável do Sistema Científico e Tecnológico da região e do país foi para a Rede Regional Innovation Policies (constituída por um rol de instituições europeias com crédito firmado na investigação económica e social sobre políticas regionais e inovação), a melhor forma também de trazer para o centro do debate da edição deste ano as regiões follower - regiões com debilidades estruturais e estrangulamentos, mas também com lógicas de especialização que podem e devem ser trabalhadas numa perspetiva sistémica pelos vários atores regionais para a criação de reais vantagens regionais competitivas.
O balanço global do evento é extremamente positivo: foi plenamente cumprido o objetivo de atrair mais de 75% de representação estrangeira, com contributos de elevada qualidade, e especialistas de renome nas principais linhas temáticas da Conferência para uma discussão crítica sobre os territórios, as políticas pensadas para estes e a inovação.”
- Björn Asheim (Universidade de Lund, Suécia)
“Este seminário, que já conta com sete edições, tornou-se um dos mais importantes fóruns de discussão sobre políticas regionais de inovação. A inovação é atualmente um dos maiores desafios globais uma vez que a falta de crescimento económico e de políticas que permitam esse crescimento seja característica na Europa do Sul, o que pode levar a problemas sociais e políticos severos. Assim, as políticas de inovação, especialmente a nível regional, nunca foram tão importantes na Europa como agora, e a necessidade de melhorar o conhecimento de como estas políticas regionais de inovação podem ser criadas e implementadas com sucesso deve ser clara entre políticos e profissionais. Deste modo, o Seminário tem um grande papel a desempenhar na difusão deste conhecimento entre investigadores e profissionais na Europa e não só. Este Seminário contribuiu para se atingir este importante objetivo, no seguimento das edições na Noruega (Universidade de Agder) em 2010 na Suécia (Universidade de Lund) em 2011.”
ISMIR – International Society for Music Information Retrieval
Catapultando a ciência INESC TEC
A tecnologia ao serviço da música – foi este o mote para a Conferência ISMIR, organizada pelo INESC TEC em parceria com o Teatro Nacional de São João (TNSJ) do Porto. Na ISMIR figurou a relação música–computador e o objetivo era, acima de tudo, apresentar o que de melhor se faz atualmente ao nível de sistemas de pesquisa musical e de recomendação automática, demos e outras aplicações ligadas a esta área. O crescente interesse sobre esta vertente confirma-se, segundo Fabien Gouyon, investigador da Unidade de Telecomunicações e Multimédia (UTM) do INESC TEC, pelo facto de a primeira conferência ISMIR, realizada em 2000, "ter tido umas poucas dezenas de participantes oriundos dos Estados Unidos, enquanto a ISMIR 2012 recebeu perto de três centenas de elementos de toda a Europa, América do Norte e Sul, Japão, Rússia, Turquia, Israel, Coreia, entre outros”, afirma.
A investigação nesta área é motivada pelo desejo de oferecer aos amantes da música, e profissionais da música e da indústria musical, métodos robustos, eficazes e viáveis, ferramentas que os ajudem a localizar, recuperar e experimentar a música. A presença neste encontro de investigadores ligados a empresas como a Google, Shazam ou Last FM ajudou também a confirmar a relevância desta área. Para Fabien Gouyon, o interesse pela investigação tem, portanto, "acompanhado o crescimento no mundo empresarial, com casos como o iTunes, e o aumento da venda 'online' de música". E o resultado desta conferência não podia ter sido mais positivo: ao promover a discussão de trabalhos científicos numa área de estudo que tem vindo a ser sido impulsionada pela revolução no armazenamento e distribuição de música através de meios informáticos, o INESC TEC conseguiu assim catapultar e trazer para a ribalta uma área que é mundialmente reconhecida.
Quando um computador é “artista” musical
O Mosteiro S. Bento da Vitória no Porto foi o local escolhido para o evento que recebeu cerca de 260 participantes de áreas diversas como musicologia, ciência cognitiva, biblioteca e ciência da informação ou ciências da computação. Com um programa amplo e diversificado, esteve ainda em evidência o diálogo entre a música e a computação sonora, e que está a revolucionar a forma como a música é produzida, ouvida e armazenada. Do programa fizeram ainda parte várias apresentações de posters, intervenções de keynote speakers, dos quais se destacou José Carlos Príncipe (docente na Universidade da Florida, EUA, e presidente do Scientific Advisory Board do INESC TEC), e ainda um conjunto de concertos onde os artistas musicais eram acompanhados por computadores.
Organizado por Fabien Gouyon e Carlos Guedes, também investigador da UTM, este evento de cariz científico colocou em destaque um tipo de música que existe porque existem computadores. Segundo Carlos Guedes, “agora em vez de pensarmos nas formas tradicionais, melodia, harmonia e ritmo musicais, tentamos organizar ‘ruídos’ que são gerados por um computador ou que são gravados e depois expandidos e articulados no tempo. A música tem a ver com esta articulação do som no tempo”, realça. Um dos mais recentes desafios destas técnicas é a chamada audição computacional, ou seja, “ensinar computadores a ouvir música tal como a ouvimos”, revela o investigador. Os sistemas são ‘treinados’ para ouvir humanos, podendo depois responder musicalmente de improviso, um aspeto em evidência neste evento.
Em discurso direto
- José Carlos Príncipe (Keynote Speaker, Universidade da Florida, EUA)
“Gostei imenso do local da conferência, dos tópicos apresentados e da audiência. Apreciei particularmente a gratificação instantânea que senti ao ouvir os resultados de diferentes metodologias de processamento de sinal associadas a peças musicais e recuperação musical. Trata-se de um avanço e melhoria significativos relativamente aos gráficos e tabelas que normalmente são apresentados nas conferências em que participo. Deste modo, não posso deixar de dar os meus parabéns aos organizadores e de lhes agradecer pelo convite que em endereçaram. Esta não será, com certeza, a última vez que participo no ISMIR!”
- Fabien Gouyon (UTM/INESC TEC, comissão organizadora)
“Creio que a conferência foi um sucesso. Recebemos cerca de 260 participantes oriundos de todos os cantos do mundo. O evento ficou marcado pelas intervenções de três keynote speakers convidados que abordaram temas muito diversificados. Gostaria de destacar o painel sobre um tema extremamente importante que é o das avaliações de algoritmos. De facto, estão a multiplicar-se as iniciativas nesta área e com este painel conseguimos juntar uma amostra muito representativa do estado da arte nesta área, um tema muito ‘hot’ junto desta comunidade e em muitos campos de investigação.
Não posso deixar de destacar também a iniciativa que marcou o fim da ISMIR 2012, que foi o Late-breaking news, organizado como uma ‘unconference’ ou como ‘barcamp’. Isto quer dizer que enquanto o programa de uma conferência normal é definido com antecedência, aqui o programa era criado na hora. Os investigadores chegavam e falavam do que queriam, sendo que havia várias sessões a decorrer paralelamente. Ao nível de organização foi um momento caótico, mas correu muito bem e conseguimos dar tempo e lugar a temas mais espontâneos que normalmente surgem em conversas informais.
Destaco ainda o local da Conferência, que era muito agradável, e de agradecer ao TNSJ por abrir as suas portas a uma conferência científica”.
- Emmanuel Bigand (Keynote Speaker, Universidade de Bourgogne, França)
“É provável que as novas tecnologias da música venham a desempenhar uma importância cada vez maior até porque oferecem uma nova perspetiva dos desafios educativos e saudáveis encontrados atualmente na nossa sociedade. A ISMIR funcionada como uma janela para estas tecnologias e para o seu potencial desenvolvimento. A conferência foi organizada de uma forma muito eficiente, alternando entre sessões plenárias, apresentações interativas de posters e discussões entre participantes. O local escolhido era apropriado para comunicações informais e o ambiente era amigável, mas sério.”
- Oscar Celma (Gracenote, EUA)
“Participo na ISMIR há quase 10 anos. Para mim, trata-se de um evento muito especial, onde podemos testemunhar não só a investigação avançada no âmbito da computação musical, mas também conviver com amigos e colegas de longa data, e promover discussões interessantes sobre o futuro da indústria musical.
Na Gracenote estamos muito felizes pelo apoio que prestamos a esta comunidade e por isso somos patrocinadores do evento desde 2009. Acreditamos firmemente que há um grande potencial em algum do trabalho apresentado na ISMIR. Do ponto de vista de transferência de tecnologia, alguns trabalhos de investigação podem mesmo ser adaptados pela indústria nos próximos anos.
Numa nota pessoal, gostaria de destacar a sessão "Demos & Late-Breaking News", organizada como um Barcamp, um tipo de unconference. Acredito que os participantes realmente apreciaram esta sessão e espero poder ver mais iniciativas deste tipo nas próximas ISMIR.
Por último, gostaria de felicitar os organizadores (Fabien, Carlos, e o resto da equipa) pelo seu maravilhoso trabalho na organização da ISMIR no Porto. Estão de parabéns!”