A linha do Equador
Faz neste mês de março um ano que se realizou, em Santos, São Paulo, a Assembleia Geral constituinte da associação privada sem fins lucrativos que tomou o nome de INESC P&D Brasil.
O acontecimento foi discreto, numa estratégia de perfil modesto que tem sido seguida criteriosamente para que a confiança dos parceiros brasileiros não seja minada por jactâncias impensadas. Mas convém registá-lo na agenda dos eventos memoráveis, aqueles que traçam uma linha na água cuja visibilidade e importância só são apercebidas muito mais tarde: quando as pessoas se aperceberem que há um antes e um depois. No entretanto, tudo evolui em aparente mansinha normalidade.
Pela primeira vez que se conheça, uma instituição de I&D que é Laboratório Associado, reconhecida como Unidade do Sistema Científico e Tecnológico Nacional, assume a internacionalização na forma de uma implantação noutro país, na verdade noutro continente.
A recetividade que as universidades brasileiras parceiras do projeto sempre deram à ideia é extremamente estimulante – e aporta pesada responsabilidade à iniciativa: ela tem que ser útil ao próprio país de acolhimento. Em coerência, ela só será benéfica a Portugal se servir adequadamente o Brasil, pois só o genuíno ganha-ganha permitirá a sustentabilidade que originará perenidade.
Segue aqui, portanto, com elevação e com argumentação prática e concreta, como dizem os espanhóis, verdadeiramente abromadora, o desafio a todos aqueles que, aprendizes de feiticeiro, acham que a política de ciência num país se faz sem instituições fortes e sem estruturação do tecido de gestão da ciência: que provem que, com financiamento apenas por projetos, grupos de investigação voláteis seriam capazes de conceber, concretizar, investir a longo prazo e aproveitar um conceito estratégico assim tão ousado e irreverente como inovador.