INESC TEC participa em projeto para prever resultados estético do cancro da mama
PICTURE SERÁ UMA MAIS-VALIA PARA MÉDICOS E PACIENTES
A Unidade de Telecomunicações e Multimédia (UTM) do INESC TEC integra um consórcio europeu que trabalha desde o início do ano numa ferramenta para prever o aspeto da mama, depois de submetida a uma cirurgia conservadora. Além de inovador (uma vez que não existia até agora uma forma objetiva de avaliar o resultado estético do tratamento ao cancro da mama), o projeto PICTURE (Patient Information Combined for the Assessment of Specific Surgical Outcomes in Breast Cancer) abraça uma área de investigação com um impacto social bastante evidente e que já valeu uma homenagem ao INESC TEC. Espera-se que o projeto dê os primeiros” frutos” a partir de abril de 2014.
Ferramenta facilita decisão sobre opção de tratamento do cancro da mama
O cancro da mama é aquele com maior incidência na população feminina europeia, afetando uma em cada nove mulheres. Apesar de, na maioria dos casos, ter tratamento, muitas mulheres têm de viver para o resto da vida com as consequências da cirurgia. São dois os tipos de cirurgia disponíveis: cirurgia conservadora (também conhecida como lumpectomia) ou mastectomia (cirurgia de remoção completa da mama).
No entanto, mesmo a cirurgia conservadora afeta por vezes a aparência da mama, o que pode condicionar a recuperação emocional e psicológica de uma mulher, gerando também um grande nível de ansiedade para a paciente. Por isso, um bom resultado estético é um aspeto importante a ter em conta no tratamento do cancro, uma vez que está fortemente ligado à recuperação psicológica da paciente e à sua autoimagem após o tratamento. Estima-se que para 30% das mulheres submetidas a uma cirurgia conservadora, o resultado estético não é o desejado.
Foi precisamente para desenvolver ferramentas que ajudem as mulheres a escolher entre as diferentes opções de tratamento para o cancro da mama de acordo com o resultado estético, que se juntaram os centros académicos e clínicos do INESC TEC, LUMC (Holanda), UCL (Reino Unido), KCL (Reino Unido) e Philips (Alemanha). A equipa vai colmatar uma falha nesta área já que “não existia até agora uma forma objetiva de avaliar o resultado estético de um tratamento ao cancro da mama”, de acordo com Maria João Cardoso, investigadora no INESC TEC e Cirurgiã-Chefe na Unidade de Cancro da Mama da Fundação Champalimaud em Lisboa.
PICTURE implica técnicas de modelação biomecânica e processamento e análise de Imagem
O consórcio do PICTURE vai desenvolver técnicas de modelação biomecânica. Na UTM, os investigadores Jaime Cardoso (responsável pelo projeto), Maria João Cardoso, Hélder Oliveira, Hooshiar Zolfagharnasab e Diogo Pernes estão a debruçar-se essencialmente sobre dois aspetos fundamentais: a avaliação quantitativa do resultado estético e o processamento e análise de imagem.
Os investigadores vão partir de fotografias e modelos 3D de pacientes para abordar a problemática na especificação dos fatores que contribuem para o resultado estético pós-cirúrgico. A equipa da UTM vai também desenvolver modelos para a determinação automática do resultado estético através da aplicação de técnicas de aprendizagem automática. A seu cargo os investigadores têm ainda outras tarefas de desenvolvimento de novos algoritmos de reconstrução 3D ou a construção de um modelo paramétrico para a superfície da mama.
O modelo digital que está a ser preparado deverá ser capaz de prever e visualizar os efeitos estéticos do tratamento. Uma vez desenvolvida, a ferramenta protótipo será validada através de dados fornecidos voluntariamente por pacientes que já foram submetidas ao tratamento do cancro da mama.
PICTURE vai ajudar médicos e pacientes
Para além de tranquilizar as pacientes acerca dos efeitos cosméticos a longo prazo da cirurgia, a ferramenta poderá ser usada para avaliar os resultados de diversas opções terapêuticas. Desta forma, este modelo poderá significar um importante contributo para as discussões entre médicos e pacientes relativamente à melhor opção de tratamento – clínica e esteticamente – para cada paciente. Para além disso, a ferramenta tem potencial para apoiar os cirurgiões na otimização de aspetos relacionados com a cirurgia (tais como o tamanho e localização da incisão) por forma a minimizar as alterações na aparência da mama.
As expectativas em torno do protótipo do projeto estão, por isso, elevadas. “Esperamos que o demonstrador do projeto PICTURE consiga ir mais longe e capacitar as nossas pacientes, prestando-lhes um tratamento mais personalizado”, afirma o médico Consultor de Cirurgia Oncológica da UCL (Reino Unido) e do Royal Free London NHS Foundation Trust, Mohammed Keshtgar. “Este trabalho tem ainda potencial para apoiar os médicos permitindo um processo de decisão e de avaliação mais objetivo após o tratamento”, acrescenta.
Com o PICTURE, a Philips alia a experiência nas áreas da oncologia, processamento de imagem e imagens médicas às capacidades clínicas e académicas dos restantes parceiros. “A Philips pretende transformar os cuidados de saúde através de um sistema inovador, centrado na paciente, que permita melhorar a qualidade de vida das pessoas. As tecnologias desenvolvidas no âmbito do PICTURE poderão ajudar oncologistas e cirurgiões nos seus esforços para fazerem do tratamento do cancro da mama um processo mais focado nas pessoas, que inclua as pacientes e as suas preferências logo na fase inicial do tratamento”, afirma o cientista sénior na Philips Research e coordenador do projeto PICTURE, Jörg Sabczynski.
UTM enriquece portfólio na área da investigação aplicada à medicina
De recordar que o INESC TEC tem desempenhado um papel fundamental na área do cancro da mama, algo que é comprovado por projetos como o Semantic Pacs, o BCCT.core, (UTM) ou o MammoClass (CRACS/INESC TEC - Centro de Investigação em Sistemas Computacionais Avançados). A UTM já foi também homenageada pela Sociedade Portuguesa de Senologia (especialidade que estuda e trata as doenças mamárias), mostrando mais uma vez com este projeto interesse pela investigação de relevância social.
Aliás, investigar numa área com impacto em problemas reais de âmbito social confere “uma satisfação e motivação adicional”, admite o colaborador da UTM, Hélder Oliveira, que acrescenta também a “pressão acrescida” pelo facto de a investigação ter reflexos diretos na melhoria da qualidade de vida dos pacientes. “Se por um lado queremos sempre atingir os nossos objetivos em termos de investigação, por outro lado tudo o que é feito tem sempre um propósito social, já que procuramos criar ferramentas que possam ajudar os médicos a melhorar as suas técnicas”, afirma o investigador.
O projeto PICTURE tem a duração de três anos e ficará concluído em janeiro de 2016, contando com um financiamento de 2,15 milhões de euros do 7º Programa-Quadro da União Europeia, no âmbito do acordo n° FP7-600948.
Os investigadores com ligação ao INESC TEC referidos nesta notícia têm vínculo à seguinte entidade parceira do Laboratório Associado: FEUP.