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As empresas de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica no Brasil precisam de desenvolver projetos de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), por força de lei. Estes projetos são avaliados em quatro requisitos: originalidade, aplicabilidade, relevância e razoabilidade de custos. Portanto, é um desafio realizar um projeto inédito, e que seja utilizado na prática num setor extremamente conservador como o setor elétrico. 

O projeto em que colaboramos com o INESC TEC (primeira fase de 2010 a 2014, e segunda fase de 2015 a 2018) é um sistema de sensores em fibra ótica, que monitoram corrente, temperatura e deslocamento dos cabos de transmissão de energia em tempo real. Permite uma operação da linha de transmissão com mais segurança e eficiência, maximizando os recursos. Este sistema envolve desde a criação de novas fibras-sensoras até o sistema de análise de dados, utilizando técnicas de inteligência artificial, e passando por eletrónica embarcada e desenho mecânico dos produtos resultantes.

Na primeira fase, foi comprovado o conceito do projeto, que teve excelente avaliação pelos órgãos fiscalizadores (que acabaram por sugerir a continuação do projeto, que é algo muito raro). Na segunda fase, está sendo desenvolvido o “cabeça de série”, ou seja, um produto que tem forte potencial para a aplicação noutras empresas do setor. Este produto ainda está em desenvolvimento, mas já apresentou resultados relevantes, principalmente, na questão da gestão de diversos pesquisadores que vieram de diferentes instituições e, portanto, sujeitos a regras específicas. Gerir estes contratos também é algo inédito.

São dois momentos distintos. Na primeira fase do projeto, houve o envolvimento de pesquisadores brasileiros e portugueses, o que demonstrou a força criativa e organizacional do INESC TEC. Resultou num ótimo projeto, com boas avaliações e repercussão no mercado. A segunda fase do projeto está apenas a começar e já mostrou o potencial do produto que está a ser gerado, além de mudanças positivas de paradigma para os pesquisadores brasileiros envolvidos e para nós, como usuários/contratantes, demostrando flexibilidade e adesão à realidade do mercado brasileiro.

Com a criação do INESC P&D Brasil tudo ficou mais fácil. Como as verbas para desenvolvimento de projetos de pesquisa, para o setor elétrico, são públicas, há uma restrição quanto a parceiros estrangeiros. E a postura do INESC TEC, no ciclo de desenvolvimento dos projetos de P&D, para o setor elétrico, incentiva-nos a continuar com esta parceria. O INESC TEC entendeu a posição destes projetos, que ainda não são produtos que podem lançar uma empresa incubada, também não são pesquisas experimentais, apenas para geração de mestres e doutorados. Há uma “lacuna” entre estes dois momentos, o que exige projetos bem feitos e preparados para se tornarem um produto comercial, porém ainda está com um forte viés académico.