Vincit qui se vincit
A sabedoria Romana é-nos, por vezes, espantosa: porque revela, mais que tudo, como somos tão idênticos, nós e eles, resultando a diferença das circunstâncias tecnológicas e não da nossa natureza.
A ciência, costumamos pensar, trouxe o conhecimento e a razão. O INESC Porto, gostamos de imaginar, é uma casa de ciência, circula-nos na veia sangue azul. Porém, o recente caso das vacinas contra a gripe A e a sua aparente rejeição por parte da população são evidências de como estamos ainda distantes daquela sociedade de utopia onde o conhecimento e a razão teriam o seu império. Já no seu discurso Pro Roscio Amerino escrevia Cícero: sic est vulgus – ex veritate pauca, ex opinione multa aestimat, cuja tradução interpretamos: assim é o povo – preza pouco a verdade e muito a crendice.
É, por isso, tarefa silenciosa e nobre a que empreendemos, no INESC Porto: alargar o conhecimento humano. Mas, como somos em essência um instituto de engenharia, não cumprimos o nosso destino se, em simultâneo, não aumentamos as suas realizações.
Neste mês de Dezembro testemunhamos dois factos que simbolizam a nossa teimosia em sermos como somos. O BIP comemora os seus 100 números – e o nosso orçamento, pela primeira vez, ultrapassa os 10 milhões.
O volume financeiro simboliza a nossa imparável trajectória: crescemos e fortificámo-nos.
O número 100 do BIP é um símbolo de outra natureza: da nossa cultura própria. Diferenciada. Criativa.
E os dois factos não são detalhes, nem desconexos: são duas evidências de uma realidade pujante.
O INESC Porto é, hoje, parte daquilo que Portugal precisa para se afirmar e proporcionar felicidade ao seu povo: uma sede de criação por via do conhecimento. Em cada dia contrariamos a ignorância e a superstição. Em cada hora mutamos o saber em acção, em resultado, e transformamos um pouco mais o país e o mundo. Poderemos orgulhar-nos da obra feita – e da que nos propomos fazer.
Há duas décadas atrás, quem imaginaria ser este o nosso devir? Muitos triunfos podemos contabilizar, mas o principal foi sobre os limites do sonhar: porque acreditámos que não haveria limites, bastaria querer. Aí, sim, fomos diferentes dos que se aceitaram tolhidos por uma realidade medíocre e se conformaram. Tínhamos também no nosso código genético cultural essas algemas, mas não nos resignámos.
Revisitando a sabedoria Romana, vincit qui se vincit, vence quem se vence a si mesmo. Somos vencedores dessa guerra, então.