Ionesco, olho vivo
Não há maior cego do que o que não quer ver, nem maior caloteiro do que o que não quer pagar.
Se o Zé deve à Carmen e a Carmen ao Peter e o Peter à Marie, e o Zé não paga, é o Ionesco, que tem a receber da Marie e não tem nada a ver com o Zé e não está a dever a ninguém, que sofre.
A banca está aí para permitir aguentar o transitório, mas e se a banca também impõe restrições, que deve fazer o Ionesco?
O Ionesco é gente de bem e, por força da sua atividade, paga as suas dívidas a tempo e de imediato (até porque tem que ter recibos para receber eventuais pagamentos do Estado). Não tem, pois, a folga que outros têm, sem muita ética mas em tempo de guerra não se limpam armas: que é também ficar a dever.
Por isso, pode o Ionesco ter uma situação económica tranquila e muita atividade que, em tempo de vacas gordas, lhe granjearia a admiração (quiçá inveja) de outros menos bafejados. Se na cadeia dos que lhe devem estiver um Zé daqueles que não quer (ou não vai poder) pagar, vai ter que amargar prejuízos que não estavam nos seus planos.
Deve, então, o Ionesco tomar precauções, defender-se desses cenários agressivos? Deve por prudência apertar o seu próprio cinto, quando tudo indicaria que o poderia deixar ainda mais folgado?
E os amigos do Ionesco, vão compreender? Vão cooperar, e ser solidários em tempos mais exigentes?
A metáfora é para quem a quiser ver. Não há maior cego…
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