A GESTÃO DO DIÁLOGO
Talvez hoje seja mais pacífico do que em outros tempos, afirmar que o desenvolvimento tecnológico de Portugal precisa de gestão de ciência como de pão para a boca. E não porque estejamos em crise – mas porque o entendimento do significado real desta afirmação já é assumido por muitos atores, quando em tempos tal não se verificava.
Tem, todavia, de se reconhecer que este não é um processo de progressão linear. Tem recaída em doenças antigas, mal curadas. É preciso cuidar.
A organização, a visão clássica e académica da atividade científica é baseada no primado do PI (o investigador principal, ou líder de um projeto). Como se bastasse ser bom cientista para magicamente se possuírem as competências todas necessárias à gestão. Como se não existissem organizações, instituições. Como se não houvesse projetos em consórcio, em colaboração e tudo se resumisse ao grupo do líder científico.
Essa visão é pequena e, na verdade, funda-se mesmo em desconhecimento ou ignorância e até em escassez de ambição – porque se é bastante para pequenas atividades, é ineficaz e insuficiente para grandes projetos.
Infelizmente, em tempos não distantes houve mesmo na política governativa de ciência um retrocesso a essa visão primária – que se somou a obsessões bibliometromaníacas para causar maior dano.
Importa, portanto, desbloquear a discussão, cultivar o conhecimento, estimular a aquisição de competências e garantir a compreensão do modelo que o futuro nos exige: o de que as instituições importam e que gestão de ciência não é o mesmo que ciência – mas é também uma ciência.
Os institutos e as Unidades de Investigação tem o dever nacional de aprofundar os processos de gestão, partilhar métodos e processos e reconhecer boas práticas. Muitos não as adotam por simples desconhecimento. Importa ampliar esse património – e é pelo diálogo, que nos falta, que lá iremos.
Venha ele.