A AVALIAÇÃO DA CONFIANÇA
Todos reconhecem sem esforço que foi a introdução de avaliação que transformou o cenário da Ciência portuguesa. Saúde-se, pois.
O exemplo da Ciência deveria ser contagioso. Avaliaram-se projetos, grupos, instituições. A avaliação individual foi deixada para critérios locais e próprios. Infelizmente, é quando se avaliam pessoas que parece que menos se condensa o bom senso: por exemplo, quando se pretende que aritméticas meramente quantitativas, com base em equações, índices e fatores, todos arbitrários e afeiçoados para dar o que deveria dar, substituam a margem livre de apreciação holística que um júri deve ter.
Muitos também reconhecem que o processo de avaliação de Unidades de I&D sofreu de deficiências, em anos recentes, que geraram feridas. A não aplicação de um mesmo modelo geral a todos, e no mesmo tempo, foi pecado danoso que originou fraturas escusadas.
Esperava-se, aguardava-se, desejava-se portanto uma ronda de avaliação saneadora.
Temos o que temos, o processo começou. Saúde-se, pois.
O que se pede, é bom senso de novo. Conhecidas as primeiras notas, importa unir e não fraturar. Importa contribuir naquilo em que todos acordam e evitar cisões descredibilizantes.
Júris são júris, opinarão com margens de incerteza. Em alguns casos, esta não será alheia à maior ou menor felicidade com que os rossios foram metidos na betesga do formulário online, com limitação de carateres, impedimento da submissão de esquemas, diagramas, fotos, cerceamento da possibilidade de cada um (se) explicar da forma mais conveniente.
O que importa é credibilizar o exercício. Por isso, é vital que se concretizem visitas de avaliação às Unidades e instituições concorrentes. Deve haver consenso em fazer sentir à FCT que menos que visitas não é credível, que meras reuniões entre júris e um qualquer representante de uma Unidade de I&D só fertilizam o terreno da contestação, da desconfiança. E muito, muito há que recuperar nesta matéria.
Nada está definitivo - nem aqui se critica o que não existe. Mas sublinha-se a traço forte o que importa ter em conta. Há decerto méritos em ser preventivo.
E que ninguém adiante um problema orçamental. Não seja um exercício de invisual austeridade momentânea, poupando nas visitas, que vá comprometer o futuro da Ciência portuguesa por seis anos.
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