O génio e o êxito
O INESC Porto cresceu fortemente no último par de anos. Descartou-se de complexos antigos, assumiu-se como centro de gravidade. Quatro grupos quatro (como nos saborosos anúncios de touradas!) aderiram em 2008 e 2009: LIAAD, CRACS, UGEI e Robótica: um total de cerca de novos 37 Doutores!!!
Durante uma década, nenhuma adesão, nenhum movimento centrípeto se verificou. Pareciam as fronteiras estabilizadas, pareciam as fidelidades estabelecidas. Qual então a razão para esta capacidade de atracção recente, tão surpreendente?
Temos para nós que duas ordens de razões: a avaliação da FCT e a qualidade intrínseca mantida.
O factor externo foi, claramente, a concretização do que há muito quem fosse lúcido defendia: uma avaliação externa com consequências. A perspectiva, ou a concretização, de classificações menores (como de “bom”) com a implicação de uma fortíssima redução do financiamento por parte da FCT originou, finalmente, uma consciencialização em grupos e investigadores de que haveriam de adoptar uma estratégia que os valorizasse, em vez de continuarem no embalo antiquíssimo de uma atitude sobranceira que desdenhava a avaliação do desempenho.
Grupos pequenos, sem massa crítica, com a perspectiva ou ameaça de avaliações com risco de serem modestas, viram-se confrontados com uma crise de sobrevivência. Uma solução? Juntarem-se a um Laboratório Associado, com classificação de “excelente” e, por via disso, com acesso ao triplo do financiamento que isoladamente conseguiriam com um “bom”. É criticável, isto? Não vemos porquê.
Na verdade, este movimento representa o sucesso da política do Governo – com a qual concordamos – de combate à pulverização e incentivo à agregação.
Mas seria possível este movimento se o INESC Porto não tivesse, por seus méritos próprios, acumulado um prestígio sólido?
Acreditamos que dificilmente. Acreditamos que a qualidade do INESC Porto, traduzida externamente numa avaliação de “excelente”, foi um factor catalisador do movimento. E acreditamos ainda que seria um erro focar na excelência científica, que a temos – porque o que o INESC Porto oferece, como poucas instituições em Portugal, é uma organização, uma estrutura, um conceito de gestão da ciência e tecnologia que pede meças a qualquer alternativa.
Esse é um trunfo preciosíssimo.
Com um orçamento a rondar os 9 milhões de Euros e um financiamento plurianual, calculável com base no per capita por doutorados de 2008, na ordem dos 450 mil Euros, seria caso para dizer: POR CADA EURO QUE O ESTADO INVESTE NO INESC PORTO, EM SEDE DE FINANCIAMENTO BASE OU PLURIANUAL, O INESC PORTO ALAVANCA 20 VEZES MAIS.
Esta afirmação não está correcta e peca por exagerada, porque o Laboratório Associado recebe efectivamente mais do que aquele valor. E ainda que fosse metade, não seria ainda espantoso? É, na verdade, impressionante. Merece reflexão. Merece, diríamos, respeito.
O INESC Porto, como outros institutos que são Laboratórios Associados em Portugal, representa o triunfo virtuoso do modelo de desenvolvimento da ciência em Portugal que rompeu com a organização académica clássica e criou um novo paradigma de gestão de ciência e tecnologia.
É de elementar justiça, neste contexto, que se releve a actuação extraordinária do Ministro Mariano Gago desde os anos noventa, sem o qual esta revolução, tranquila mas espantosa, provavelmente não teria acontecido. Todo o homem se compõe de virtudes e defeitos e nunca nenhum produz obra perfeita ou imaculada. Mas consideremo-nos afortunados por termos beneficiado da visão genial de um cientista convertido em político decidido e com genuíno sentido de serviço público.