POLÍTICA NUM PAÍS LÚCIDO
Por vezes se argumenta que existe oposição entre ciência e transferência de tecnologia: quem faz bem uma, não pode fazer a outra. Isto pode estar mais ou menos certo ao nível individual: mas é um erro quando o prisma é coletivo.
Não existe boa transferência de tecnologia se não existe boa ciência a montante – e ciência sem transferência é como despejar água no Sahara, algo precioso que se esvai e evapora sem benefício algum.
Fala-se muito em modelos de organização da Ciência em Portugal e, por vezes, olha-se muito pouco para o que existe. A conclusão é fácil: os modelos que não geraram mecanismos de transferência não se demonstram sustentáveis. A relevância social da Investigação encerra, portanto, o germe da sua própria sobrevivência saudável.
Esta aparente quadratura de círculo que se revela afinal como ovo de Colombo só se materializa com instituições fortes. Pensar que a sustentabilidade da Ciência se assegura apenas com as pessoas é remeter-se ao modelo individual, já experimentado e falhado.
O mérito individual dos cientistas é um instrumento e não um fim. Disse Sun Tzu: que “manobrar com um exército é vantajoso, com uma multidão indisciplinada é muito perigoso”. O exército é a organização, o suporte é a instituição.
O reforço das instituições, como estruturantes da combinação mágica de ciência e transferência, como ordenadoras do esforço coletivo na conquista e valorização do conhecimento, é um imperativo da política científica de um país lúcido.
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