Investigação no setor agroalimentar em expansão no INESC TEC
Integração de investigadores da UTAD reforça oportunidades de I&D neste setor
Os setores alimentar e agrícola têm merecido uma atenção progressiva no INESC TEC. A área é competitiva e exigente, mas revela-se um poço de oportunidades de I&D. Despontam projetos na área da monitorização da qualidade alimentar, da robótica aplicada à agricultura/viticultura de precisão ou da gestão e otimização de processos na indústria alimentar, alguns com dimensão europeia, como o FOCUS, Sniffer, ou eFoodChain. Os centros mais envolvidos são o Centro de Engenharia de Sistemas Empresariais (CESE), o Centro de Engenharia e Gestão Industrial (CEGI) e o Centro de Robótica e Sistemas Inteligentes (CROB)*. A integração de investigadores da UTAD, no seguimento do protocolo assinado em fevereiro de 2012 com o INESC Porto, veio reforçar o leque de competências neste domínio.
Indústria agroalimentar tem importante impacto social e económico
Setor relativamente inexplorado, mas competitivo, exigente (em termos de conhecimentos - transversal em domínios como a biologia, a fisiologia vegetal e o marketing), algo complexo até (ao nível da cadeia de valor) e sujeito às inconstâncias meteorológicas e morfológicas, o agroalimentar representa um grande universo de oportunidades de I&D, que o INESC TEC tem sabido explorar, aproveitando a estreita ligação à indústria, premissa em praticamente todos estes projetos.
“Os projetos na área agroalimentar têm um papel preponderante no desenvolvimento regional e são um motor para a inovação”, revela Raul Morais, investigador do CROB, que nota, ainda assim, haver ainda uma aposta contida neste setor por parte das instituições. O CROB quer inverter a tendência, empregando, naturalmente, as tecnologias que domina.
O importante impacto social e económico do setor é também confirmado por José Luís Borges, investigador do CEGI, Centro que desde a sua génese se tem mantido focado na indústria agroalimentar, primeiro com projetos de disponibilização de material multimédia e depois com trabalhos centrados na distribuição de bebidas e bens alimentares perecíveis. “O tipo de abordagem proposta pelos membros do CEGI caracteriza-se pela utilização de métodos analíticos avançados para analisar e otimizar processos por forma a auxiliar a tomada de decisão”, explica José Luís Borges.
Já o CESE também não se tem mostrado alheio ao setor e o estudo da integração, ainda relativamente pouco expressiva, das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) neste domínio foi mesmo um dos objetivos do projeto eFoodChain. Foram analisados 10 países e “no caso particular de Portugal, Espanha e Grécia, entrevistas pessoais enfatizaram um nível muito baixo de adoção das TIC na área a montante da distribuição. Em termos de tamanho das organizações, a adoção das TIC nas transações B2B é claramente muito mais baixa em pequenas organizações do que em grandes organizações”, refere o investigador do CESE César Toscano. O projeto veio, assim, estimular e facilitar a adoção das TIC no suporte a transações B2B entre empresas das cadeias alimentares, com especial destaque em pequenas e médias empresas.
Este Centro participou ainda nos projetos europeus FoodManuture que teve por objetivo identificar lacunas e definir uma agenda estratégica de investigação para as tecnologias de produção necessárias para e setor agroalimentar; e no projeto ami@netfood, que teve por objetivo definir uma visão e tendências de aplicação de tecnologias de informação no setor agroalimentar.
WineBioCode e WineSlot são exemplos de projetos de sucesso
No Centro de Fotónica Aplicada (CAP)**, os projetos na área agroalimentar têm vindo a aumentar em número e impacto, e a tendência é de crescimento “dada a sua importância social e económica”, refere o coordenador adjunto do CAP Ireneu Dias. Apesar disso, não constituem ainda o foco de trabalho do Centro, que já possui bons exemplos a este nível: o projeto Sniffer na área da segurança alimentar, o WineBioCode na rastreabilidade dos produtos alimentares e o Aquamonitor na área da produção em aquacultura.
O WineBioCode liga a área dos biossensores à área da genética molecular. Tem como principal objetivo desenvolver um biossensor ótico para detetar processos de hibridação de ADN com aplicação na área de rastreabilidade de vinhos. Com o projeto Sniffer pretende-se projetar e desenvolver uma rede de dispositivos distribuídos capaz de detetar rapidamente no local vários tipos de agentes altamente sensíveis e variáveis ao longo dos vários estágios da cadeia de abastecimento alimentar. Já no Aquamonitor desenvolveram-se sensores em fibra ótica para monitorizar a qualidade de água, aplicando-os à determinação de dióxido de carbono dissolvidos em aquacultura.
Com um grande impacto na Região Demarcada do Douro (RDD), o projeto WineSlot é demonstrativo da versatilidade do Centro de Sistemas de Informação e Computação Gráfica (CSIG)***. Desenvolvido com o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), teve como objetivo a gestão de classificação de parcelas de vinha. O projeto originou um módulo, que assegura a informatização e automatização do processo de classificação das novas parcelas com vinha da RDD, e que passou a ser parte integrante do Sistema de Informação Vitivinícola da RDD. Este processo vai desde a definição dos conceitos, procedimentos e regras necessários para efetuar levantamentos de parcelas de vinha, tendo em atenção os aspetos legais e técnicos associados, e que garantam a compatibilização da representação das parcelas pelas várias entidades intervenientes na regulação da vinha e vinho na Região, até à integração no sistema do IVDP que assegura a gestão da classificação das parcelas. Os resultados deste projeto têm um grande impacto na RDD uma vez que permitem a automatização da gestão do potencial vitícola das denominações de origem, incrementando a capacidade do IVDP de controlar, promover e defender as denominações de origem e indicação geográfica da RDD.
No CEGI, destaca-se, a título de exemplo, o WholeChain, cujo intuito é o desenho e planeamento da cadeia de abastecimento da indústria alimentar tendo em consideração as especificidades dessa indústria. Este projeto propõe um framework quantitativo inovador que integra o desenho e planeamento da cadeia de abastecimento, tendo em conta as especificidades da indústria com vista a melhorar a qualidade das decisões dos intervenientes.
Este Centro tem ainda em curso um projeto que tem como objetivo a modelação da qualidade do vinho da região do Douro que visa desenvolver um modelo que permita relacionar a variação dos diversos fatores meteorológicos ao longo de cada ano de colheita com a qualidade global do vinho. Está a ser desenvolvido em colaboração com a Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense - ADVID.
Integração de investigadores da UTAD contribui para aumentar competências
As áreas da floresta e da agricultura fazem, desde 2012, parte do portfólio do CROB, graças aos cinco investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) integrados (mediante um protocolo estabelecido entre o INESC Porto e a UTAD), cuja colaboração e complementaridade abriu também novas portas nas áreas do Controlo e da Robótica.
“Com a incorporação de elementos da UTAD no CROB, com uma maior sensibilidade para os problemas e especificidades do sector agrícola, um conjunto de problemas concretos têm vindo a ser levantados com vista à criação de oportunidades de I&D”, explica o investigador do CROB, Raul Morais.
São exemplos desta tendência a proposta de um projeto europeu no âmbito do H2020 com o acrónimo MountVitiRobot, onde se pretende conceber estruturas robóticas que navegam sozinhas em vinhas de encosta com o objetivo de monitorizar a evolução do cultivo e das condições ambientais e uma outra que visa realizar operações na vinha. Igualmente, têm-se multiplicado contactos com a fileira da castanha, deteção aérea de manchas florestais, doenças, entre outras.
Já o projeto europeu FOCUS (“Advances in Forestry Control and Automation Systems in Europe”) une CESE e CROB na área da tecnologia de controlo e gestão da exploração florestal. Tem como objetivo desenvolver uma plataforma inovadora que possibilite o planeamento e controlo integrado das operações da floresta-à-fábrica, de forma a aumentar a produtividade, reduzir os custos operacionais e melhorar a sustentabilidade das cadeias de abastecimento de base florestal na Europa.
De mencionar ainda a existência de projetos neste domínio noutros centros, nomeadamente o Fire-Engine no Centro para a Inovação, Tecnologia e Empreendedorismo (CITE)****, e do MODAL ou MORWAK no Laboratório de Inteligência Artificial e Apoio à Decisão (LIAAD).
Cerca de duas dezenas de projetos que incidem nas áreas da alimentação e agricultura estão atualmente em desenvolvimento ou ficaram concluídos recentemente. O número pode crescer fruto da criação/dinamização da Comunidade INESC TEC Sistemas Agroambientais e Alimentação, levada a cabo pelo Serviço de Apoio a Parcerias Empresariais (SAPE), que organizou já o 1º Encontro dos Contactos Preferenciais na Comunidade INESC TEC Sistemas Agroambientais e Alimentação. “Tem-se procurado identificar um conjunto de oportunidades com o propósito de abordar todas as ferramentas tecnológicas passíveis de acrescentarem valor no domínio Sistemas Agroambientais e Alimentação, envolvendo competências de vários Centros de I&D do INESC TEC”, clarifica o investigador do SAPE, André Sá.
*antigas Unidade de Engenharia de Sistemas de Produção (UESP), Unidade de Gestão e Engenharia Industrial (UGEI) e Unidade de Robótica e Sistemas Inteligentes (ROBIS), respetivamente.
**antiga Unidade de Optoeletrónica e Sistemas Eletrónicos (UOSE)
***antiga Unidade de Sistemas de Informação e Computação Gráfica (USIG)
****antigas Unidade de Telecomunicações e Multimédia (UTM) e Unidade de Inovação e Transferência de Tecnologia (UITT).
Os investigadores com ligação ao INESC TEC referidos nesta notícia têm vínculo à entidade parceira do Laboratório Associado: INESC Porto, FEUP e UTAD.