A porta e a janela
Em muitos pontos estão hoje de acordo indústria e escolas de engenharia e saúda-se a cooperação que hoje existe, tão distantes em duas décadas estamos dos tempos em que quase não sobrevivia diálogo útil.
Um dos pontos convergentes é a necessidade de mão de obra qualificada, e há concórdia no diagnóstico – não basta formar mais e melhores portugueses, é preciso também atrair talentos. De outro modo, todos os planos de crescimento se verão atrofiados ao passarem no gargalo dos recursos humanos qualificados.
Outros países adotaram e adotam políticas inteligentes de atração de talentos. Portugal, porém, hesita e não se decide.
Nem para a própria injeção de mais energia, ou mesmo sobrevivência da atividade científica.
Duas linhas de medidas têm emergido recentemente, que causam dificuldades desnecessárias à atração de talentos que as universidades e centros/institutos de investigação tentam promover. Uma, tem a ver com a burocratização, camuflada com aromas de “necessário jurídico”, do reconhecimento de habilitações. Outra, com a dificultação incompreensível na concessão de vistos.
Num caso, retirou-se aos Grupos de Investigação (Centros, Institutos...) o poder prático de decidir se as habilitações académicas apresentadas por um candidato a bolsa eram aceitáveis – e substitui-se por um processo administrativo cujo efeito prático é dilatar prazos de decisão, introduzir incerteza e levar à impossibilidade de admissão ou à desistência de candidatos.
Noutro caso, à dificuldade mais acentuada dos serviços de processar pedidos de visto juntou-se a eliminação das vantagens relativas que os vistos para investigadores permitiam ter, de celeridade das decisões. Na prática, o tal visto passa a ser uma realidade estatística, não uma Via Verde para atrair talentos.
Já vimos mais vezes este filme. Pela porta pode entrar o simplex, que logo pela janela irrompe o complique-se.