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"Nesses dois anos me esforcei ao máximo para desenvolver um trabalho sério, sempre preocupado com o rigor científico e metodológico." Vítor Mangaravite (LIAAD)

Pensar Sério

"Sinais dos tempos e dos novos deuses e ai de mim que vou ser excomungado, mas não me converti ao deus-mercado, nem ao deus-dinheiro.", João Ferreira (CAP)

Galeria do Insólito

Já que estamos a falar de insólitos, podia dar um livro a quantidade de pedidos estranhos que chegam aos serviços do INESC TEC.

Ecografia

BIP tira Raio X a colaboradores do INESC TEC...

Novos Doutorados

Venha conhecer os novos doutorados do INESC TEC...

Novos Colaboradores

No mês de junho entraram 15 novos colaboradores no INESC TEC.

Cadê Você?

O INESC TEC lança todos os meses no mercado pessoas altamente qualificadas...

Jobs 4 the Boys & Girls

Referência a anúncios publicados pelo INESC TEC, oferecendo bolsas, contratos de trabalho e outras oportunidades...

Biptoon

Mais cenas de como bamos indo porreiros...

 
 

Pensar Sério

30 anos no INESC TEC - Capítulo II - Como se fez o CAP

por João Ferreira*

 

Proponho-me eu falar um pouco da história do CAP (Center for Applied Photonics), que começou por ser GOE (Grupo de Optoeletrónica); não confundir com GOE (Grupo de Operações Especiais), nem com um outro GOE (Grupo de Optoeletrónica) que surgiu mais tarde no Departamento de Física. Nasceu o GOE no contexto do Projeto SIFO (Sistema Integrado por Fibra Ótica) tal como o próprio INESC Porto.

A execução deste projeto foi uma aprendizagem, cheia de surpresas e aventura para todos os envolvidos. Estávamos a tomar conhecimento de tecnologias novas e simultaneamente a criar uma organização (hoje podemos dizer uma Instituição) a partir das bases mais elementares. Houve sofrimento, houve euforia, houve erros, houve muito trabalho, mas algo de concreto emergiu, quer na consecução do Projeto, quer nas distintas vertentes de organização e formação a que isso obrigou. A abertura de Portugal à Europa com a adesão a instituições de investigação como o CERN, muito contribuiu para formação de quadros do INESC Porto.

Terminado o SIFO seguiu-se uma fase de indefinição.

Havia agora uma equipa técnica coesa, distribuída por áreas de conhecimento e com lideranças estabilizadas. A máquina organizativa funcionava já em velocidade de cruzeiro, embora fosse insipiente se comparada com a atual.

Como aproveitar o conhecimento adquirido, os laboratórios bem equipados e um apreciável stock de componentes?

Recordemos que a atividade principal do INESC Porto era o desenvolvimento de hardware. Alguns componentes eram bastante caros, em particular mas não só, os que estavam ligados às tecnologias da fibra ótica, a qual dava então os primeiros passos em Portugal; a simples aquisição de componentes era dificultada pela falta de distribuidores, recorrendo-se frequentemente à importação, muitas vezes diretamente dos fabricantes e após explicações detalhadas sobre a situação sui generis de um grupo de loucos que se propunha desenvolver tecnologia no meio do deserto.

Tirar partido de toda esta riqueza acumulada surgia agora como uma dificuldade, pois o dinheiro já não fluía como até aí.

Veio a fase da formação académica, já reivindicada pelo pessoal júnior. É verdade meus amigos, fazer Mestrado não era um dado adquirido, foi necessário organizar o Mestrado em Telecomunicações na FEUP, que estava desativado. Muitos fizeram mestrados (alguns só metade), outros doutoramentos. Algumas bolsas vieram aliviar o encargo com vencimentos.

Surgiu também a formação para o exterior. As empresas, industriais e comerciais, satélites das telecomunicações, estavam ávidas de conhecimentos que o INESC TEC entretanto adquirira: fibra ótica, processamento de áudio e vídeo, redes integradas de voz, dados e vídeo. Outros saberes eram também procurados, pasme-se: processamento de texto, folha de cálculo, bases de dados; os computadores pessoais começavam a ser usados nas empresas.

Seguiu-se a formação financiada pelo Estado e pela União Europeia, técnicos recebiam formação especializada após o Ensino Secundário e licenciados completavam a formação adquirida com conhecimentos avançados. Os números de telefone dos formadores e técnicos eram distribuídos entre todos para qualquer eventualidade, como se vê na figura junta. Porque será que tive agora necessidade de os esconder, sendo que a maior parte estarão até desatualizados?

Sinais dos tempos…

telefones

  

O setor das telecomunicações tinha entretanto formado os seus quadros próprios, as fibras óticas deixavam de ser novidade e a participação no INESC TEC foi decrescendo. Simultaneamente foi o Instituto estreitando laços com a indústria e diversificando as suas áreas de intervenção.

No CAP, então UOSE, Unidade de Optoeletrónica e Sistemas Eletrónicos, desenvolveram-se colaborações nomeadamente com empresas como a Cabelte, a Efacec, a Cunha Barros, a EDP. Surgira entretanto a figura dos Centros de Transferência de Tecnologia, neste particular em Optoeletrónica. Iriam especializar-se nessa ligação com a indústria cujo futuro se previa risonho e com ordenados chorudos; mas não duraram muito.

A coordenação do CAP estava agora nas mãos do José António Salcedo e foi durante o seu consulado que recebemos colaboradores da antiga União Soviética, nomeadamente o Oleg Okhotnikov, valeroso cientista e saudoso amigo.

Chamado a assumir funções no exterior, o Salcedo sondou os seus colaboradores, analisou o perfil de cada qual e criou uma liderança tricéfala constituída pelo Armando Lourenço, o José Luís Santos e o Ireneu Dias. O Armando rumou a Aveiro e o duo Zé Luís – Ireneu manteve-se em funções por um longo e profícuo período.

Foi com a entrada do Zé Luís que o CAP abandonou as comunicações óticas e passou a aplicar esse know-how na área dos sensores. Esta mudança tinha ocorrido aliás com o próprio Zé Luís que, tendo trabalhado nas comunicações em fibra ótica, e também nas comunicações óticas atmosféricas, fizera entretanto doutoramento nos sensores em fibra ótica, sob a orientação do Pereira Leite. Este núcleo fez escola na FCUP, desenvolvendo trabalho nos sensores em fibra ótica. Desta escola saíram doutorados, discípulos de vulto: António Lobo Ribeiro, Luís Alberto Ferreira e Francisco Araújo, que com o Salcedo fizeram parte do núcleo fundador da Multiwave. Posteriormente, o Luís, o Kiko, o Maia e ainda o Pedro Antão Alves, com o Zé Luís e o apoio do INESC TEC, dariam origem à FiberSensing.

 

FiberSensing

 

Insiro aqui um parêntesis para mencionar alguns nomes que passaram nessa época pelo CAP: Francisco Pereira, Gaspar Rego, Pedro Sobral, João Sousa, Ednan Joani, Alberto Maia, Filipe Pinto, José Carlos Azevedo, Andrei e Cezarina Mardare, Paulo Moreira, Pedro Cavaleiro Dias, Paulo Marques, atual coordenador do CAP, e muitos mais cujos nomes não consigo agora lembrar.

Todos os que coordenaram o grupo que deu origem ao CAP deixaram a sua marca distintiva.

O Pereira Leite levou a bom porto o SIFO e lecionou no Mestrado da FEUP, organizado pelo Pimenta Alves e onde lecionaram ainda José Ruela, Mário Jorge Leitão, Nunes Ferreira, Marques dos Santos, Raul Vidal, Soeiro Ferreira, Lobo Pereira, Espain de Oliveira.

O Sérgio Ferraz Santos teve uma passagem efémera e a contra-gosto, mas na qual aplicou toda a sua boa vontade no apoio ao mestrandos e às tarefas em curso.

Com o Sílvio Abrantes veio o trabalho de simulação da rede de acesso, em cobre naturalmente pois era convicção na época que a fibra ótica até casa do assinante não se justificava, porque nunca tão grande largura de banda seria necessária. Houve também a elaboração de um curso sobre comunicações em fibra ótica (INTELEC) e mais algum trabalho em formação à distância.

O regresso do Salcedo ao INESC TEC e à coordenação do Grupo coincidiu com a época forte da formação financiada (Fundo Social Europeu), mas também com a abertura às empresas já anteriormente referida, onde destaco a colaboração com a Efacec, em particular na área da comunicação ótica atmosférica.

O Zé Luís trouxe ao Grupo a sua especialização nos sensores de fibra ótica e também os seus pupilos, mestrandos e doutorandos de grande valia, alguns deles mais tarde empreendedores, outros dando continuidade a essa linha de investigação, aprofundando e alargando o seu âmbito. Desta época permito-me destacar o projeto PROTEU e seus sucedâneos, para monitorização da Ria de Aveiro, bem como a medição de corrente elétrica em alta tensão, com fibra ótica.

Chegamos ao período atual, com o Paulo Marques, que tem vindo a desenvolver a área de fabricação com lasers de impulsos curtos, não deixando também de reforçar a atividade de sensores. O CAP diversificou os seus saberes, incluindo investigadores em áreas bem distintas como: química, materiais, biologia, imagem OCT, filmes finos. Não entrarei em detalhes sobre a atividade mais recente, por isso mesmo, pois por ser recente não é ainda possível um olhar distanciado e abrangente. Tive a tentação de referir aqui alguns investigadores deste período, mas que já não fazem parte do CAP. Desisti dessa pretensão pois têm sido muitos e bons e não é possível escolher apenas alguns sem incorrer numa grave injustiça.

O que hoje é o CAP deve-se ao trabalho de muitas pessoas. É justo reconhecer que tivemos a sorte de ter bons líderes. O caminho não foi fácil nem em linha reta, teve escolhos e ziguezagues, mas com trabalho argúcia e alguma sorte, foi possível avançar. A co-coordenação do Ireneu Dias merece aqui uma referência de destaque, pois raramente é possível reunir na mesma pessoa tantos atributos: inteligência, ponderação, capacidade de diálogo e espírito de sacrifício (talvez demasiado). Estou certo que tanto o Zé Luís como o Paulo Marques partilham desta minha opinião.

Referi atrás quanta é a sorte que temos tido com a liderança, mas não menor sorte tivemos com o apoio administrativo. Desde os primórdios do INESC Porto e do GOE, passando pela UOSE até ao presente CAP, sempre este grupo contou com pessoas tão competentes quanto diferentes, que passo a nomear pela ordem cronológica da sua passagem pelo Grupo: Eunice Ferreira, Cidália Lima, Renata Rodrigues, Ana Isabel Oliveira, Luísa Mendonça. A todas o meu sincero “Obrigado e desculpem qualquer coisinha.”

A minha atividade dentro do Grupo sempre passou mais pelo hardware, outrora nas comunicações como agora nos sensores: emissores e recetores óticos, sincronismo, condicionamento de sinal. Em paralelo com o projeto de circuitos e sistemas, o software também tem feito parte do meu dia-a-dia: simulação em Pascal, Fortran e MatLab; aquisição de dados e controlo de equipamentos com LabView.

Os anos já vão pesando. Admiro e invejo aqueles que são capazes de trabalhar com o mesmo ritmo, como se a idade não passasse; outros há como eu, cujo físico desconhece as normas de sustentabilidade da Segurança Social. Sinais dos tempos e dos novos deuses e ai de mim que vou ser excomungado, mas não me converti ao deus-mercado, nem ao deus-dinheiro. Sei que não há uma maneira única de fazer bem as coisas, mas deixá-las correr e esperar que se auto-regulem não é certamente a melhor forma. Não esqueçam que a entropia aumenta sempre.

É provável que um destes dias tenha que deixar o INESC TEC, por minha vontade ou sem ela. Até lá continuarei a usar o meu saber naquilo em que puder ser útil e a transmitir os conhecimentos que ao longo destes anos adquiri. A par com o saber, vão também valores e normas de conduta que outros me transmitiram e eu faço questão de guardar mas também de distribuir.

Até sempre.

Um abraço