Ciência, superstição e honestidade
Uma das mais notáveis notícias dos últimos tempos foi o comunicado da deteção de neutrinos supostamente viajando a velocidade superior à da luz.
A ser verdade, os fundamentos de um dos mais espantosos avanços científicos do século XX estariam estilhaçados. Não quer dizer que a Relatividade não continuasse a ser uma "boa aproximação" da realidade em certas circunstâncias, tal como ainda hoje a gravitação de Newton o é – mas a base filosófica teria ruído fragorosamente.
Claro que a mera possibilidade da queda de um deus é já notícia, ainda que se possa dizer que as novas sobre a morte de Einstein são francamente exageradas.
Mas o facto notável já ocorreu, e não é científico: é sobre os cientistas e a ciência.
Ao contrário de bruxos e curandeiros, astrólogos ou alquimistas, de negacionistas do aquecimento global, da evolução das espécies ou da idade da Terra, ao arrepio de esotéricos, videntes, iluminados e de raptados por extraterrestres, a excitação está na verificação do resultado da anunciada experiência.
Vemos, pelos olhos dos media, o método científico em verdadeira e honesta ação. O seu instrumento: o ceticismo iluminado. O seu processo: a discussão controlada pela experiência.
Não estamos a assistir ao espetáculo menos próprio da desmascarada "fusão fria". Tiramos simbolicamente o nosso chapéu à seriedade dos investigadores que anunciaram os resultados e agora colocam ao julgamento da comunidade os seus méritos, bem como todos os elementos necessários para que a experiência possa ser reproduzida. Seja confirmada ou não a descoberta, o louvor é já merecido.
Pois não há ciência sem verificação independente.
P.S.
Qvosque tandem abvtere, Catilina, patientia nostra?
(Cícero, Oração I contra Catilina – Até quando abusarás, Catilina, da nossa paciência?)
Delenda est Cartagho
(Catão o Velho, no fim de cada discurso – Cartago deve ser destruída)
Pois então:
Quosque tandem abutere, QREN, patientia nostra?
Já não é Cícero contra Catilina, mas o Bom Senso contra o delírio burocrático do QREN. Que se terminem então todos os Editoriais com a teimosa frase de Catão, adaptada ao vernáculo nortenho mais rijo e genuíno:
Delenda est buroQREN.