INESC Porto promove cooperação entre Universidades brasileiras
Projectos de monitorização energética e ambiental ligam países irmãos em colaboração dinâmica
O INESC Porto promoveu recentemente um projecto que o une a duas Universidades brasileiras – Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) – no valor de dois milhões de reais (cerca de 800 mil euros), para o desenvolvimento de um protótipo na área da monitorização de sistemas de transmissão de energia eléctrica. Este projecto surge no âmbito de uma ambição maior: constituir no Brasil um modelo semelhante ao INESC Porto, promovendo projectos em consórcio segundo o modelo Europeu. Países irmãos unidos pela história unem-se agora na ciência e na investigação, fortalecendo um cordão umbilical secular pelo intercâmbio, troca de conhecimento e cooperação activa.
Investigação portuguesa une-se à pesquisa brasileira
A UFPA confirmou a assinatura de um contrato, designado no Brasil de P&D (pesquisa e desenvolvimento), com a empresa TBE – Transmissoras Brasileiras de Energia, no sector da rede de transmissão de energia eléctrica, que constituirá o primeiro projecto de investigação conjunto do INESC Porto com duas Universidades brasileiras (a UFPA e a UNICAMP do Estado de São Paulo). Este modelo de projecto pretende assumir-se como o primeiro passo na prossecução de um objectivo mais amplo: constituir no Brasil um modelo semelhante ao INESC Porto, em que a cooperação substitua a competição, e abra também uma nova porta para a internacionalização das ciências brasileira e portuguesa.
Em 2009, o INESC Porto lançou o repto de cooperação junto de várias das mais prestigiadas universidades brasileiras com um objectivo claro: unir dois países irmãos na investigação de excelência. Esta iniciativa teve aprovação do Conselho Geral do INESC Porto e apoio expressivo do Reitor da Universidade do Porto, que tem mantido correspondência com seus congéneres no Brasil. O projecto dirige-se à empresa TBE, um conjunto de cinco concessionárias de transmissão de energia eléctrica, que actua nos estados do Pará, Maranhão e Santa Catarina. Visa monitorizar estruturas remotas da empresa através da colocação de sensores especiais e encaminhamento da informação por rede de fibra óptica.
Numa altura em que algumas das instituições de ensino superior ainda não se pronunciaram formalmente, já estão a ser dados os primeiros passos, procurando mostrar pelo exemplo as virtudes do modelo. Através da assinatura deste contrato, o INESC Porto conseguiu unir num projecto comum duas Universidades brasileiras de duas cidades e estados diferentes e muito distantes, mostrando assim uma capacidade excepcional para motivar a criação de consórcios frutíferos, que não são muito frequentes na América do Sul comparativamente com a Europa.
Sensores portugueses vão monitorizar locais remotos no Brasil
A cooperação do INESC Porto com estas Universidades brasileiras já havia surtido efeitos com um projecto, anteriormente aprovado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e pela congénere brasileira, que prevê o desenvolvimento de um protótipo na área da monitorização ambiental remota, denominado "Monitorização remota de parâmetros ambientais através de sensores de fibra óptica - AMBISENSE".
Com o envolvimento da Unidade de Optoelectrónica e Sistemas Electrónicos (UOSE) enquanto representante do INESC Porto, o projecto prevê um orçamento próprio para tarefas a serem desempenhadas pela UOSE. De acordo com José Manuel Baptista, investigador da UOSE responsável pelo projecto, “a necessidade de monitorização ambiental em determinados locais remotos no Brasil e a actividade desenvolvida na UOSE na área dos bio-sensores em fibra óptica” foram motivos fundamentais para a concretização desta proposta.
Com o objectivo de “desenvolver um protótipo sensor de alguns parâmetros ambientais (físicos e químicos) e respectiva transmissão de dados”, este projecto possibilita uma “colaboração científica e tecnológica na área da optoelectrónica, em termos de sensores, e na área das comunicações ópticas e de radiofrequência, em termos de transmissão de dados”, explica o investigador.
A ciência brasileira no INESC Porto
A ligação entre o INESC Porto e a investigação brasileira não é recente. Prova disso é o grande número de investigadores brasileiros na instituição e os projectos conjuntos com outras Universidades brasileiras. De entre mais de 400 colaboradores, maioritariamente portugueses, mais de cinco por cento do universo INESC Porto é constituído por investigadores brasileiros, desde bolseiros a professores visitantes (de entre os quais se destaca recentemente José Celso Freire Júnior, pró-reitor da Universidade Estadual Paulista – UNESP), que escolheram o INESC Porto para levar a cabo as suas actividades de investigação.
Por outro lado, são já muitos os cientistas brasileiros que obtiveram o grau de Doutor desenvolvendo a tese no INESC Porto. A maior parte obteve o diploma na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), mas também existem casos em que, após o desenvolvimento do trabalho em Portugal, a tese foi defendida numa universidade brasileira.
Mais do que esta partilha de recursos humanos, o INESC Porto tem ainda protocolos de cooperação estabelecidos com diversas Universidades brasileiras, em projectos maioritariamente na área da energia e optoelectrónica e sistemas electrónicos. Promove-se, assim, uma partilha de know-how e de experiência, fortemente assente no eixo Portugal-Brasil. Daí resultaram outros projectos bilaterais, em diferentes estados de concretização, com Universidades como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Universidade Federal de Engenharia de Itajubá (UNIFEI) ou a Universidade de Santa Cecília (UNISANTA), em São Paulo. E o BIP sabe que mais projectos estão na calha.
Uma relação proveitosa
E quais são os benefícios de projectos transatlânticos como estes? Para além do valor económico e técnico-científico, graças ao desenvolvimento de produtos com aplicação prática, todas as partes beneficiarão em diversas outras vertentes. No caso do AMBISENSE, sendo o orçamento do tipo Acção Integrada e de modo a promover a partilha de conhecimento, é remunerado "o intercâmbio de dois investigadores portugueses e de dois investigadores brasileiros por ano para uma duração de 2 anos”, esclarece José Manuel Baptista.
Mais do que isso, “estimulam-se os constantes contactos e potencia-se a agregação de sinergias de diferentes grupos de investigação que normalmente incluem também o intercâmbio de Alunos de Doutoramento”, afirma o investigador da UOSE. Por outro lado, as Universidades brasileiras “têm contacto com a realidade INESC Porto que por si só é uma estrutura organizacional de investigação e desenvolvimento com aspectos muito positivos, enquanto que a nossa instituição tem a oportunidade de se mostrar num enorme espaço económico que é o Brasil”, finaliza.
O Director do INESC Porto que tem tido a função de dinamizar a relação Portugal-Brasil, Vladimiro Miranda, confirma o interesse especial destes projectos. “Com eles”, afirma, “o INESC Porto mostra pelo exemplo, mais do que por palavras, que pode desempenhar um papel útil no Brasil e em favor do próprio desenvolvimento da ciência brasileira. Ao conseguir promover consórcios entre grupos e universidades pouco habituadas a este esquema de trabalho, e ao consolidar alianças, esperamos poder também vir a fortalecer a oferta do próprio INESC Porto noutras regiões do globo, nomeadamente na Europa, pois poderemos complementar a nossa competência com as capacidades dos nossos parceiros brasileiros. Assim também os nossos amigos e irmãos do Brasil avaliem positivamente o nosso desafio e o nosso intuito.”
