O DALTONISMO
Qualquer política influencia comportamentos, pelas boas e más razões.
Mas se há coisa que uma boa política não dispense, é de ter uma perceção dos efeitos de longo prazo – e de, compreendendo-os abrangentemente, ter a intuição do caminho necessário. Afinal, a política é a coisa mais a via para lá chegar.
Infelizmente, se há maleita disseminada por muitos dos que são responsáveis por qualquer política ou programa, é o daltonismo – ou, se a metáfora não parecer adequada, é a visão simplista e linear da realidade, não compreendendo as subtilezas, cambiantes, variações, tonalidades que, parecendo menores ou marginais, têm afinal efeitos de bifurcação. Associada a esta cegueira, vem a incapacidade de compreender o princípio da retroação: que as consequências influenciam as causas, o que, por sua vez, altera as consequências o que de novo impacta sobre as causas. Se estamos com sorte, o sistema é estável – mas, as mais das vezes, nos sistemas sociais ou económicos, a malha de retroação é positiva, o que significa instabilidade, destruição de valor. Então, as medidas agravam o estado que se queria corrigir.
Uma política regional que afirme que só se deve apostar no que já se tem (a teoria do reforço apenas dos pontos fortes), traz como consequência impedir o arrojo, a inovação, a exploração de novas avenidas de conhecimento, de crescimento e de riqueza.
Imaginemos um exemplo: afirmar que a nossa oportunidade marítima é apenas a geração eólica offshore é explicar que qualquer exploração de outras visões sobre como implantar e desenvolver um conhecimento sobre uma nova economia do mar não será financiada, apoiada, sustentada. Então, os agentes económicos e da geração de ciência retirar-se-ão de qualquer esforço nesse campo, porque a política a isso os induz. Um dia, vem uma potência estrangeira, explora os minérios do nosso solo submarino e nós ficamos como terceiro-mundistas, cobrando umas taxas e deixando o valor acrescentado todo nos que nos venderão, depois, os produtos transformados.
Para um país que tem uma ambição de soberania sobre 4 milhões de quilómetros quadrados de Atlântida, talvez daltonismo não seja mesmo a melhor metáfora, a palavra é curta.
Créditos foto: http://www.daltonicos.com.br/daltonico/teste.html