30 Anos à Conversa
30 anos à conversa
António Gaspar: Porque aderiste ao INESC TEC?
José Fernando Oliveira: Porque o meu orientador científico aderiu e, com toda a sinceridade, para quem em 1985 quisesse fazer algo mais dentro da Universidade do que dar aulas, não havia alternativas: o projeto do INESC era único na sua área de influência. Mas depois de aderir, e de começar a viver dentro do INESC, foi sem dúvida a sensação de pioneirismo e novidade que mais me entusiasmou e seduziu.
António Gaspar: Qual foi o projeto que mais te entusiasmou/motivou/marcou? Porquê?
José Fernando Oliveira: Sem dúvida o PLACORTE, um software para a otimização do corte de placas de madeira, que minimizava desperdícios e maximizava a produtividade das máquinas de corte, que resultou da minha tese de mestrado. O PLACORTE foi sucessivamente desenvolvido, vendido diretamente pelo INESC a algumas empresas, negociados os direitos de comercialização com a MEDIDATA e vendido por esta "software house" a mais alguns clientes, e mais tarde revendido à MIND, que fez ainda uma tentativa de comercialização. Esta história decorreu entre 1988 e 1998 e é a história de um produto inovador, a que foi reconhecido potencial por duas "software houses", mas que nunca se afirmou no mercado. Atualmente este tipo de software é praticamente uma "commodity" e é fornecido, em versões básicas, pelos fabricantes de máquinas de corte de madeira com os seus equipamentos. A lição aprendida foi que em inovação, como em muitas coisas na vida, não vale a pena ter razão antes de tempo: o "timing" do lançamento dos produtos e serviços é crítico.
António Gaspar: Qual a situação mais divertida/embaraçosa que viveste no INESC TEC nestes últimos 30 anos?
José Fernando Oliveira: Prefiro responder sobre a situação de maior humanismo que presenciei no INESC, e que foi personificada pelo Prof. Borges Gouveia, à data Diretor do INESC. Perante uma situação de atrasos, devidos a algumas dificuldades burocráticas, no pagamento de prémios e a necessidade real de alguns colegas satisfazerem compromissos financeiros, o Prof. Borges Gouveia, impotente para resolver o problema no âmbito do INESC, prontificou-se a adiantar dinheiro do seu próprio bolso para suprir essas dificuldades. Este sempre foi, é e terá que ser o espírito do INESC, manifestando-se de múltiplas e diferentes maneiras ao longo dos anos.
José Fernando Oliveira: Porque optaste pelo INESC TEC para desenvolver uma carreira profissional?
António Gaspar: Na altura, em 1985, não havia muita atividade de I&D na minha área (telecomunicações) e a perspetiva era um trabalho rotineiro, tipicamente de secretária. Lembro-me de pensar que não queria trabalhar com papéis. O INESC oferecia a oportunidade de investigar e desenvolver novas soluções de telecomunicações em hardware, projetando circuitos eletrónicos, montando e testando usando equipamentos de teste e medida de topo de gama. Recordo que o meu projeto inicial foi o SIFO, Serviços Integrados por Fibra Ótica, um projeto que se destinava a permitir a criação de redes integradas multisserviço, disponibilizando ao assinante (os clientes da época…) telefone, TV e transmissão de dados (não se percebia bem que dados e para quê…). Em 1985!!! Só há poucos anos as redes multisserviço chegaram às nossas casas na forma do triple play. Não havia nada igual em Portugal. A escolha era óbvia!
José Fernando Oliveira: Em que momento da tua vida profissional decidiste, ou sentiste, que o INESC TEC iria ser para a vida?
António Gaspar: Nunca senti isso. A minha vida profissional tem sido muito diversificada no INESC TEC e foram sempre surgindo novos desafios aliciantes, que me mantiveram motivado. Comecei pela Eletrónica Rápida, depois passei pela TV Digital, pela Videoconferência e normalização internacional do MPEG na ISO, as Redes de Banda Larga, a Consultoria Estratégica TIC e finalmente a viragem para os Sistemas de Informação, paralelamente com a Pós Graduação e o Mestrado nessa área. Enquanto continuarem a surgir desafios, continuarei interessado no INESC TEC.
José Fernando Oliveira: Para ti, o que é que faz o INESC diferente?
António Gaspar: A diferença reside na diversidade de projetos que surgem, quer em termos tecnológicos, quer em termos setoriais, tornando cada ano diferente, com novos parceiros e novos desafios.