A Vós a Razão
A União Faz a Força
Por Paula Viana*
Este convite para escrever para a coluna “A Vós a Razão” do BIP deixou-me a pensar sobre o que iria escrever: um tema polémico? Algo divertido? A olhar para o passado? A perspetivar o futuro? Os temas podiam ser os mais diversos mas algo com o que tenho sido bombardeada nos últimos meses não me podia deixar indiferente - o número “30”. Que eu saiba este número não tem qualquer significado místico - não é o 666, o 33, o 13; assumindo a minha ignorância ainda fiz uma pesquisa no Google não fosse estar perante algo que desconhecesse e explicasse a minha ligação a este número fantástico. Mas nada… Afinal tudo se explica com uma simples coincidência: as duas instituições que me acolhem (INESC TEC e Instituto Politécnico do Porto) comemoram 30 anos em simultâneo. Tem sido por isso um ano cheio de comemorações, reflexões, olhares para o passado e para o futuro.
Podia começar com “Ainda sou do tempo em que…”. É verdade! Apesar de não ter feito parte da totalidade destes 30 anos em cada uma das instituições, a minha ligação a cada uma delas está muito próxima disso. Isto permite-me ter uma perspectiva muito particular deste período que vivi com intensidade dos dois lados, vestindo sempre a camisola de ambos, ultrapassando dificuldades, criando laços.
É com orgulho que observo o crescimento e a afirmação do INESC TEC e do IPP no panorama nacional e internacional da investigação e ensino superior. O INESC, que conheci ainda enquanto aluna da FEUP, deixou-me deslumbrada! Permitia-me ter acesso a um conjunto de recursos que não encontrava na faculdade; proporcionava-me um ambiente de trabalho (ainda como estudante) que me levava para além do que aprendia nas aulas; permitia-me aceder (imaginem!) a documentos ainda confidenciais de organizações internacionais. Enquanto investigadora do INESC TEC trabalhei em projetos inovadores, alguns que se revelaram um sucesso outros que não conseguiram passar à fase seguinte. Mas este é o ciclo normal do processo de investigação e transferência de tecnologia: o videotex alfafotográfico (provavelmente nunca ouviram falar) foi vencido com o aparecimento da web; já o algoritmo JPEG, que hoje assumimos como banal nas nossas máquinas fotográficas, telemóveis, etc., e que fez também parte dos meus primeiros trabalhos no INESC, teve um desfecho diferente. Uma novata portuguesa a participar em reuniões com os “gurus” das maiores empresas e universidades mundiais que discutiam um algoritmo para comprimir imagens só foi possível porque no INESC TEC havia uma cultura de confiança nos jovens, de arriscar, de “ir à luta”. Desde esses primórdios, assisti ao, e espero ter contribuído para o, crescimento e afirmação do INESC TEC. É com o mesmo orgulho que ainda aqui estou.
Durante todo este período acompanhei também a evolução do IPP, e do ISEP em particular. Também aí vi a instituição a crescer, a afirmar-se e a mudar radicalmente. Também aí encontrei o ambiente e o incentivo para experimentar, para inovar, para discutir assuntos nem sempre consensuais. A polémica à volta dos “que fazem investigação dentro de portas” e “os que andam lá por fora”, nunca fez para mim sentido e, diria mesmo, deixou-me sempre surpreendida! A oportunidade que me deram de participar desde cedo em projetos internacionais permitiu-me ver desde então o quão pequenos éramos em Portugal e perceber que só uma política de união de forças nos permitiria crescer e afirmarmo-nos. Por isso continuei no INESC TEC. Alguns dissabores resultantes dessa atitude um pouco irreverente foram, apesar de tudo, sempre compensados pelas discussões que tive a oportunidade de ter com os presidentes dos órgãos de gestão das duas instituições, nos vários momentos em que foi preciso discutir investigação/ensino superior, e em que fui sempre chamada para relatar a minha experiência INESC TEC/IPP-ISEP. Esses relatos transparentes mostravam claramente o benefício, para ambas as instituições, desta colaboração já longa e reforçavam a minha opinião de que em conjunto faríamos mais e melhor. É por isso também, com orgulho, que vejo a consolidação do Politécnico do Porto e que vejo o fortalecer dos laços entre as “minhas” duas instituições e o implementar da visão “A União faz a Força!” pela qual sempre lutei.
Mas o futuro não termina aqui. Há ainda muitos caminhos a percorrer, desafios importantes em termos de Investigação e Ensino Superior. Alguns far-se-ão por pequenos passos, outros implicarão alterações fracturantes. Apesar das incertezas e desafios, vejo à frente destas duas instituições um futuro promissor em que a manutenção da colaboração institucional contribuirá seguramente para o sucesso de ambas.
*Colaboradora do Centro de Telecomunicações e Multimédia (CTM)