Fora de Série
A Série dos fora de série
Num universo de mais de 800 colaboradores, são muitos os meses em que há mais de um colaborador com um desempenho “Fora de Série”. Prova disso mesmo é o facto de, em vários meses, recebermos mais do que um nomeado. Isto determinou uma mudança de política editorial: o BIP passou a destacar todos os nomeados em cada mês, sem opção de mérito (porque todos o têm muito!). Adicionalmente, tendo por base critérios de oportunidade noticiosa, é desenvolvida uma entrevista a um dos nomeados.
ESTE MÊS FALAMOS COM... Teresa Andrade
1) A Teresa celebrou, em 2016, 20 anos de “casa” no INESC TEC. Como descreve a evolução do INESC TEC nestes últimos 20 anos?
Gradual na primeira década, baseada na aquisição de experiência e maturidade das equipas jovens; “brutal” nestes últimos três ou quatro anos, incorporando para além da experiência, (boas) práticas externas. Em concreto e para além do óbvio aumento acentuado de dimensão quer em termos de infraestruturas quer de recursos humanos, creio que as grandes alterações se verificaram em duas vertentes: 1) profissionalismo, rigor e competitividade; 2) abertura ao exterior com um poder de comunicação eficiente e eficaz. Por outro lado, também sinto que a carga administrativa, procedimental e burocrática aumentou substancialmente.
2) Ao longo destas duas décadas, a Teresa trabalhou em diferentes projetos. Há algum que a tenha marcado particularmente? Porquê?
Embora identifique não um mas sim um conjunto de projetos que me marcaram, posso efetivamente evidenciar um deles, o Eureka Vadis, por dois motivos: 1) foi o meu primeiro projeto Europeu, no qual, embora eu não fosse a coordenadora, era a mais assídua dos representantes do INESC Porto [atualmente INESC TEC], tendo uma carga significativa de responsabilidade; 2) foi o projeto que deu um grande impulso ao desenvolvimento da norma MPEG-2 para difusão de televisão, hoje em dia ainda em utilização, na qual eu própria tive contribuição direta na especificação da parte de sistemas dessa norma, embora numa escala muito reduzida. De entre outros projetos que me marcaram bastante, destaco o ACTS Atlantic pela sua grande dinâmica e envolvimento com parceiros extremamente interessantes tais como a BBC, e ainda o FP6-IST Enthrone, pela sua dimensão e pelo papel de destaque que o INESC TEC assumiu.
3) Trabalha essencialmente na área de Multimédia. Como é que vê o papel do INESC TEC nesta área?
Creio que temos grande potencial com base no nosso historial de investigação e desenvolvimento nesta área, frequentemente em parceria com players internacionais de grande gabarito. Penso que as competências adquiridas podem ser aplicadas para introduzir inovação em vários domínios que não apenas os tradicionalmente abrangidos pela área multimédia, nomeadamente o entretenimento. Hoje em dia os domínios de atuação podem ser extremamente diversificados, tais como: inclusão social; assistência ao envelhecimento ativo; promoção de comportamentos socialmente responsáveis e motivação à participação em assuntos de interesse comum; comércio eletrónico; ambiente; turismo; preservação do património cultural material e imaterial; divulgação da cultura; entre outros.
Não obstante este potencial, este largo espetro de aplicação e a experiência adquirida, os últimos anos não têm sido particularmente risonhos para a área, a qual tem visto a não ser concedido financiamento às propostas que tem submetido no âmbito dos programas-quadro europeus. Creio, no entanto, que iniciamos uma nova fase, com uma liderança mais dinâmica que nos permite antever horizontes mais risonhos para a área.
4) Além de investigadora no INESC TEC é docente na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Fale-nos um pouco do seu percurso. Existe ainda alguma coisa que gostasse de fazer, alguma área em que ainda gostasse de vir a trabalhar?
Quando me formei não tinha o objetivo de vir a lecionar, de me tornar docente do ensino superior. O meu percurso foi acontecendo e não planeado. Tive a sorte de me terem surgido oportunidades e de as ter conseguido agarrar. Comecei a dar aulas no Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores da FEUP já relativamente tarde, passados 11 anos da conclusão da minha licenciatura e cinco anos após a conclusão do mestrado. De certo modo fui afortunada pois permitiu-me fazer outras coisas pelo caminho, das quais só tenho boas memórias, tais como um estágio de seis meses no CERN, na divisão de comunicações do túnel LEP e um outro de cerca de 20 meses em Turim nos laboratórios de pesquisa da Telecom Italia, onde trabalhei no seio de uma equipa fantástica, liderada pelo “pai” das normas MPEG, Leonardo Chiariglione.
Fiz o doutoramento pelo caminho, já como docente, tendo conseguido concluí-lo apenas quando já tinham passado 10 anos após ter lecionado a minha primeira aula como Assistente Convidada. Atualmente sou Professora Auxiliar no DEEC, lecionando essencialmente unidades curriculares relacionadas com multimédia e redes de computadores. Para além disso assumi desde o ano letivo de 2015-2016 o cargo de Diretora Adjunta do Mestrado em Multimédia.
Como disse inicialmente, embora não tenha planeado este percurso académico, creio que não tem corrido mal e sinto mesmo uma grande satisfação quando vejo que consigo motivar e transmitir conhecimento aos meus alunos. Confesso que sinto uma ponta de orgulho quando, por volta desta data e ainda que em número reduzido, recebo os desejos de boas festas de antigos alunos. Sinceramente não me vejo a fazer outro tipo de trabalho que não aquele que faço atualmente. Apenas tenho sentido ultimamente a necessidade por um lado, de desenvolver a minha atividade de investigação em áreas de interesse social e, por outro lado, em conseguir melhores resultados junto dos alunos, mudando o paradigma de ensino e adotando práticas de aprendizagem ativa, centradas no estudante.
5) Terminaremos este questionário, pedindo que comente a sua nomeação, feita pela coordenação do CTM:
"A coordenação do CTM propõe para ‘Fora de Série’ a Profª Teresa Andrade, por ter sido a principal dinamizadora da candidatura do Porto à realização do NEM Summit 2016. Este evento, que se realizou em novembro e que contou com o INESC TEC como entidade organizadora local, é realizado anualmente pela NEM Initiative (New European Media Initiative), uma plataforma criada no âmbito do 7º Programa Quadro da Comissão Europeia e que reúne os principais atores industriais e académicos na área dos Media. O evento do Porto, que contou com a presença de representantes da Comissão Europeia e parceiros dos principais projetos Europeus na área dos Media, serviu também de montra das atividades desenvolvidas pelo INESC TEC e empresas portuguesas da área."
Só tenho obviamente que agradecer a confiança depositada. Mas devo dizer que a nomeação a ser justa, deveria ter sido não só para mim, mas também para a Cristina Guimarães e para o professor Artur Pimenta Alves. Eles, sim, foram os grandes entusiastas e impulsionadores da nossa candidatura, tendo-me eu limitado a estabelecer as ligações, enquanto os dois se certificavam de que efetivamente eu as fazia. Tive a sorte de ter podido contar com equipas de profissionais excelentes, quer do lado da direção do NEM Europeu, quer cá no Porto do ponto de vista organizacional, através da Sónia Pinto da empresa Mind The Moment e da equipa da FBAUP, em especial o professor Luís Pinto Nunes.
A realização do NEM Summit cá no Porto penso que foi efetivamente positiva. Para além de ter dado grande visibilidade ao INESC TEC e à sua área multimédia, permitiu impulsionar o NEM Portugal, iniciativa-espelho ao NEM Europeu, a qual tem por objetivo dinamizar e mobilizar a interação entre a indústria e parceiros do sistema científico e tecnológico nas áreas dos media e criatividade.