A CIÊNCIA DO FEITICEIRO
Parece que mago deriva do Império de Média e Pérsia, podendo significar homem sábio, e foi adotado para designar os seguidores e sacerdotes de Zoroastro. As suas habilidades incluiriam conhecer as estrelas e ler nelas o destino.
Sentir o destino é de poucos, agir para o moldar é de excecionais. Mariano foi desses portugueses que nunca são excessivos em número e, se agora nos falta, é porque tivéramos, antes dele, falta dele.
A sua leitura fina incluía um modo de ação peculiar: criar tensões, desequilíbrios nos sistemas acomodados. Se ativadas de modo adequado, as roturas introduzidas são geradoras de oportunidades onde os melhores, sufocados por sistemas engessados, anquilosados, fossilizados, controlados por acomodados, podem emergir e transformar.
Duas roturas bastam para definir a grandeza de visão de Mariano: e em ambas se revela um traço comum que é a abertura a uma reestruturação. São elas: a emancipação da atividade científica e a emancipação da autonomia universitária.
A primeira veio da criação da FCT para gerir o conceito de avaliação, como vocábulo normal na rotina dos dias da ciência portuguesa. A segunda veio da oferta da alternativa fundacional para as universidades. Em ambas, foi em certo sentido permitido coexistirem, temporariamente, lado a lado, o sistema antigo e o novo – que Darwin fizesse o seu passe de mágica, já que o de Mariano estava feito.
Deve o INESC TEC a Mariano mais do que se pode descrever: não favores, mas o feitiço de um norte de valores e atitude. Bem hajas, Mariano Mago.