A Vós a Razão
Investigando (em) Portugal
Por Sanderson Lima*
Com a ideia de relatar minhas experiências como investigador no INESC Porto fui buscar, no fundo da memória, os pensamentos que ocupavam o meu tempo durante a viagem do Brasil a Portugal. Lembro-me bem que mais do que respostas eu vinha com muitas dúvidas e com grande esperança de que, antes de tudo, esta experiência representasse um grande crescimento pessoal e não apenas profissional. E, por isso, meu espírito era muito mais de “investigar Portugal”, conhecer melhor e assimilar a cultura deste lado do Atlântico que tanto influenciou a própria cultura Brasileira. Logicamente, ao seu devido momento, alguns pensamentos mais relacionados ao “investigar em Portugal” também surgiram ao longo daquela viagem. E passei a sonhar com projectos de parceria para pesquisa e desenvolvimento científico que levassem ao desenvolvimento de mecanismos sinérgicos entre a Universidade do Porto e a Universidade Federal do Ceará (UFC).
É oportuno lembrar que minha decisão de realizar os estudos de doutoramento na Universidade do Porto foi inicialmente motivada pela reconhecida competência da UOSE no desenvolvimento e aplicação de sensores em fibra óptica. E, neste quesito, posso dizer que as expectativas foram plenamente confirmadas, dado que, no INESC Porto, encontrei o ambiente interdisciplinar que precisava para levar a cabo o meu projecto de doutoramento. Sob o ponto de vista de actuar como facilitador de parcerias entre o INESC Porto e a UFC, acredito que a minha estadia tem contribuído para identificar os pontos onde temos competências complementares e fico contente com a confirmação, vinda do Brasil, de que um projecto para efectivar esta cooperação já está em vias de ser submetido a uma instituição de financiamento brasileira.
Hoje, tenho a consciência de que ao longo de minha estadia em Portugal algumas das primeiras ideias foram sendo esquecidas e pude perceber que, antes mesmo do relacionamento institucional e de visões estratégicas, a vida do investigador no estrangeiro é uma oportunidade de se experimentar “o novo” de forma directa e pessoal. Por isso, quando do retorno ao Brasil, levarei comigo não apenas o aperfeiçoamento técnico, mas sim uma visão mais alargada da essência humana do Português, do Portugal e, porque não, do Brasileiro.
* Colaborador na Unidade de Optoelectrónica e Sistemas Electrónicos (UOSE)
UMA “aventura” EM Portugal
A esposa de Sanderson Lima faz um balanço da estadia em Portugal e conta-nos como foi acompanhar o marido nestas andanças por território Lusitano.
1. Pode fazer um balanço da sua estadia em Portugal?
O primeiro passo para uma grande mudança traz sempre uma dose razoável de insegurança. Atravessar um oceano é assustador, quando os olhos se voltam para um passado cheio de boas lembranças. Mas o futuro que se nota logo ali, no além-horizonte, é também encantador. Decerto, isso acalma o coração. Chegar a Portugal e ser tão bem recebida por essa nação amiga foi, de facto, um conforto. Conquistar espaços, desvendar os mistérios desse novo mundo e receber o carinho das pessoas que cruzaram o meu caminho foi intenso, gratificante. Ter o meu marido ao meu lado foi o meu porto seguro. Tudo por aqui foi aprendizado, crescimento pessoal e profissional. Tudo compensou a saudade daqueles que no Brasil ficaram. Fernando Pessoa nos apresentou uma frase de navegadores antigos que afirmava: “navegar é preciso, viver não é preciso”. Posso dizer, no entanto, que naveguei… E vivi! Intensamente!
2. Como foi acompanhar o seu marido nesta "aventura" por um país estrangeiro?
Se eu tivesse que escolher uma única palavra para definir a minha vinda a Portugal, essa palavra seria “surpreendente”. Sempre tive o objectivo bem claro de acompanhar o meu marido nesse período de estudo e dedicação, a despeito do que a vida viesse a me oferecer. Surpreendentemente, fui presenteada com experiências singulares. Além de estar ao lado da pessoa que amo, encontrei parte da família que aqui vive, conquistei amizades preciosas, vivi momentos inesquecíveis num trabalho voluntário junto ao Infantário Carlos Alberto, me apaixonei pelo Porto, essa cidade incrível, e retorno ao Brasil, agora, com o meu maior tesouro: a minha filha Isabela, que ainda está a desvendar os mistérios de minha barriga.
3. Sabemos que também está a estudar cá em Portugal. Qual a formação que está a tirar?
Sou Engenheira Cartógrafa e oficial do Exército Brasileiro. Estou a terminar o meu curso de mestrado em Sistemas de Informação Geográfica na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.
4. Além do novo rebento que sabemos que vem a caminho, que outras impressões positivas leva de Portugal?
Levo comigo as belezas naturais de Portugal, como a Serra da Estrela, o Algarve… A sensação agradável de uma tarde à beira do rio Douro. Levo o exemplo de cidadania do povo português. A qualidade dos serviços públicos. A hospitalidade. A cultura. O sabor de dever cumprido. E a vontade de voltar. A passeio, porém, sempre.