Offside
30 Anos à Conversa

No ano do trigésimo aniversário do INESC TEC, o BIP foi em busca de histórias da casa, contadas por gente da casa.

Corporate

Um olhar sobre nós na voz dos nossos parceiros - Testemunho da Flowmat, pela voz de Manuel Resende.

Fora de Série

"Espero que, como este, continuem a surgir, no futuro, mais exemplos de cooperação frutífera entre o SAL e os investigadores." Nuno Felício (SAL) e Matthew Davies (CTM)

A Vós a Razão

"Há mais de 20 anos que sou colaborador de entidades pertencentes ao estado Português e sempre me irritou solenemente o modelo de gestão que incentiva o cumprimento irredutível do plano/orçamento anual (...)" Ângelo Martins (CSIG)

Asneira Livre

"Há que evitar ao máximo a criação de falsas expetativas, passando a transmitir, sempre, que as entidades do Sistema Nacional de Investigação e Inovação (SI&I), nas quais o INESC TEC se enquadra, desenvolvem tecnologias até Technology Readiness Level (TRL) 7" (André Sá, SAPE)

Galeria do Insólito

É dos Estados Unidos que nos chega uma péssima notícia para o INESC TEC, em particular para o CPES...

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BIP tira Raio X a colaboradores do INESC TEC...

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Venha conhecer os novos doutorados do INESC TEC...

Cadê Você?

O INESC TEC lança todos os meses no mercado pessoas altamente qualificadas...

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Fora de Série

A Série dos fora de série

Num universo de mais de 800 colaboradores, são muitos os meses em que há mais de um colaborador com um desempenho “Fora de Série”. Prova disso mesmo é o facto de, em vários meses, recebermos mais do que um nomeado. Isto determinou uma mudança de política editorial: o BIP passou a destacar todos os nomeados em cada mês, sem opção de mérito (porque todos o têm muito!). Adicionalmente, tendo por base critérios de oportunidade noticiosa, é desenvolvida uma entrevista a um dos nomeados.

ESTE MÊS FALAMOS COM... MATTHEW DAVIES (CTM) E NUNO FELÍCIO (SAL)

1. O software IBT - INESC Porto Beat Tracking, cuja licença foi comprada pela empresa alemã Mamoworld, foi desenvolvido por um grupo de investigação do Centro de Telecomunicações e Multimédia (CTM) liderado pelo Matthew. Pode-nos explicar o que é este software e em que contexto pode ser utilizado?

Matthew Davies: O IBT é um software para extração de batidas em sinais de música. Explicando de outra forma, o objetivo é conseguir reproduzir, de forma automática, o movimento humano intuitivo de “bater o pé” ao som da música. O IBT foi essencialmente desenvolvido por um ex-colaborador do INESC TEC e FEUP, João Lobato Oliveira, durante os seus estudos de Doutoramento. O João desenvolveu o IBT dentro do contexto do Marsyas, uma framework de código aberto para processamento de áudio, que é amplamente utilizada dentro da comunidade de extração de informação a partir de música. Uma das principais caraterísticas que distingue o IBT de outros métodos é a sua robustez e possibilidade de aplicação em diversos contextos. No contexto do Mamoworld, por exemplo, é usado para auxiliar a edição de vídeo sincronizado com música. Uma outra aplicação interessante é o desenvolvimento de um robot que dança ao som da música, em tempo real. Tendo esta última aplicação sido produto de uma colaboração industrial com a Honda.

2. A nomeação para “Fora de Série” refere que este foi um processo de licenciamento demorado. Para quem não está familiarizado com estas questões, o Nuno pode explicar que fases é que envolvem um processo de licenciamento de patentes e venda de direitos de autor, exemplificando com este caso??

Nuno Felício: o processo de licenciamento de tecnologia inicia-se com uma manifestação de interesse da parte do licenciador que poderá, ou não, ter sido já resultado de um trabalho proativo de identificação de potenciais licenciadores. A partir desse momento, e caso tal ainda não tenha sido feito, efetuamos um procedimento de due dilligence para verificar se temos liberdade para avançar com o licenciamento e averiguar eventuais restrições ou condições a que possamos estar sujeitos (verificação dos autores e titulares; se a tecnologia foi alvo de licenciamento prévio, etc.). Posteriormente, iniciamos conversações no sentido de compreender os interesses das partes, só depois dando lugar a um esforço de exploração criativa de soluções que enderecem os interesses manifestados e que converge numa definição concreta do âmbito e termos de licenciamento. A fase seguinte traduz-se no exercício de reduzir a escrito o entendimento chegado num contrato de licenciamento. Este exercício pode atravessar algumas iterações, que são tão mais reduzidas quanto mais claro tiver sido o entendimento anterior. Após esse consenso final, a licença está finalmente pronta para ser assinada e executada. Para melhores resultados, este processo deve decorrer numa base de transparência e assertividade, que é a forma como eu descreveria as negociações que tivemos com a Mamoworld.

nuno felício e matthew davies   Matthew Davies

3. - Do ponto de vista do investigador, o que é que gostaria de sublinhar em relação a esta experiência, que acredito ter sido diferente daquilo que costuma fazer no seu dia-a-dia?

Matthew Davies: Foi muito gratificante ver um trabalho desenvolvido no grupo SMC ser transferido com sucesso para a indústria. No típico dia a dia de investigação, o esforço centra-se muitas vezes em escrever artigos científicos, cujo impacto é sentido essencialmente no seio da comunidade académica. O licenciamento do IBT para a Mamoworld permite alcançar e causar impacto numa comunidade completamente diferente, nomeadamente a de edição de vídeo. Para além disso, como estou normalmente focado em fazer investigação, foi também muito interessante para mim ver como funcionam outras áreas do INESC TEC, nomeadamente o seu lado mais "virado para a indústria” graças à colaboração com o Serviço de Apoio ao Licenciamento (SAL).

4. O Serviço de Apoio ao Licenciamento (SAL) foi criado no INESC TEC há dois anos para colmatar a lacuna que existia ao nível da proteção e licenciamento das tecnologias que desenvolve. Com objetivos iniciais tão ambiciosos (“reforçar a posição do INESC TEC enquanto instituição líder ao nível do licenciamento de tecnologia” - BIP 146) como é que tem sido a implantação do Serviço numa instituição que não estava tão sensibilizada para estas questões quanto seria de esperar?

Nuno Felício: Exemplos como o da cooperação do Matthew com o SAL para licenciar este software à Mamoworld são a face mais visível dos resultados do nosso esforço de sensibilização dos investigadores do INESC TEC para a importância e o valor de articular com o SAL a gestão da propriedade intelectual da instituição. O objetivo desta articulação é precisamente valorizar a nossa tecnologia, defender os interesses do INESC TEC e também os dos próprios investigadores. De facto, temos procurado, desde o início, interagir com os colaboradores do INESC TEC numa base de cooperação, competência e abertura e assim conquistar a confiança dos mesmos, através da nossa atividade, na nossa capacidade de acrescentar valor aos esforços de transferência de tecnologia do INESC TEC e à defesa dos seus interesses. Notamos uma evolução positiva, mas ainda há muito espaço para progredir.

Nuno Felício   Matthew Davies 2

5. Terminaremos este questionário, pedindo que comentem a sua nomeação, feita pela coordenação do SAL e CTM.

“A coordenação do SAL e do CTM nomeiam o Nuno Felício do SAL e o Matthew Davies do CTM pelo licenciamento do IBT. O Nuno e o Matthew foram uma equipa inexcedível no licenciamento oneroso do IBT à Mamoworld, uma empresa alemã na área do software para media. O IBT é um software derivado do software open source Marsyas, desenvolvido no INESC TEC há três anos. A nomeação de ambos é o reconhecimento de que o licenciamento de tecnologia decorre da melhor forma para o INESC TEC e para as empresas quando há envolvimento de investigadores e profissionais de transferência de tecnologia. Sendo baseado no Marsyas, foi necessário envolver o seu autor (George Tzanetakis - Universidade de Vitoria, Canadá) neste processo. Ambos conseguiram o envolvimento do George, e refinaram a proposta de valor do IBT para a Mamoworld. Foram negociações demoradas e duras, mas que culminaram com êxito!”

Nuno Felício: É para mim uma honra esta nomeação. Este resultado nunca teria sido possível sem a cooperação estreita do Matthew, a quem quero também agradecer. Espero que, como este, continuem a surgir, no futuro, mais exemplos de cooperação frutífera entre o SAL e os investigadores.

Matthew Davies: É para mim também uma grande honra ser nomeado. Esta nomeação, no entanto, não teria sido possível sem o entusiasmo e flexibilidade do Nuno que habilmente geriu todo o processo, incluindo as negociações com o George (Universidade de Victoria) e o Mathias (Mamoworld). Penso que é também importante reconhecer que, do ponto de vista de investigação, este foi um esforço de equipa. Aproveito por isso para agradecer a todos aqueles que estão envolvidos no desenvolvimento do IBT: João Lobato Oliveira, Fabien Gouyon e Luís Paulo Reis.