COMO UMA BOA IDEIA CORRE PERIGO NA IMPLEMENTAÇÃO
A ideia, batizada de “Laboratórios Colaborativos”, sugere-nos motivos de esperança. Depois da constituição de núcleos robustos no cenário da ciência nacional, importa introduzir no sistema um incentivo à colaboração multidisciplinar - e uma resposta a grandes desafios temáticos, que exigem uma abordagem plural. Mas esta ideia, como outras tantas, pode ser exponenciada como ver-se atraiçoada pelos “diabos” das implementações.
Se tivesse sido assente no princípio do PI-based research, seria provavelmente ineficaz ou mesmo contraproducente. Felizmente, está retomada uma linha de pensamento de que as instituições são âncoras do sistema científico, que lhe providenciam estrutura e gestão. Mais de uma vez repetimos neste fórum que Portugal, às vezes mais do que excelência na ciência, está a precisar de excelência na gestão de ciência – e atividade organizada em volta de um líder científico, sem mais, não é senão uma forma de retrocesso civilizacional. É preciso dar-lhe gestão.
É que o desenvolvimento e a sociedade evoluída derivam da complexificação das relações, e não da sua desestruturação ou simplificação. Verdade nem sempre lembrada.
Complexificação não é o mesmo que burocratização insana e, para nosso calvário, lemos continuamente indícios de que o que o simplex tira pela porta nos entra pela janela. Mas, para aguentar o delírio burocrático em que permanentemente nos mergulham, e para garantir a contínua sustentabilidade económica e financeira das instituições, a farmácia não chega: é mesmo preciso gestão.
Os programas de financiamento nacional/regional, com que as instituições presentemente vivem, e a armadilha da sequência com que foram lançados tiveram o efeito perverso de oferecer enormes oportunidades de financiamento e colocar a prazo imensas dificuldades de sustentabilidade, por exigirem às instituições de ciência uma percentagem de autofinanciamento. Seja 15%, ou seja 25%, a pergunta é: onde vão as unidades de investigação, instaladas nos institutos de interface, buscar esse autofinanciamento? Já ouvimos afirmações delirantes de que iriam buscar aos overheads, como se os overheads não fossem despesa real e fossem lucro… Só quem não entende de gestão (ou finge não entender) é que pode defender tal dislate.
Um deslize deste género na implementação, e certamente veríamos os mais importantes institutos de interface ser obrigados a ponderar renunciar à oportunidade – esvaziando em muito a ambição original.
Não é este o único caveat que virá a propósito da ideia dos Laboratórios Colaborativos – que, repita-se, faz sentido no seu conceito geral. Mas convém pensar.