Relatório do INESC TEC mostra que cuidados de enfermagem especializados são um investimento com retorno para o SNS
enfermagem especializada é uma necessidade crescente e uma tendência internacional
Relatório sobre os cuidados de enfermagem especializados, produzido pelo INESC TEC para a Ordem dos Enfermeiros, conclui que a especialização em enfermagem é uma necessidade crescente e uma tendência internacional, pressupondo um retorno financeiro importante para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). As conclusões do documento foram dadas a conhecer em abril.
Especialistas podem trazer benefícios na ordem do 18M€/ano
«Uma população envelhecida, com doenças crónicas (…) exige uma redefinição da política de gestão de recursos humanos (…) capaz de atender a estes novos desafios societais». É assim que começa o relatório intitulado “Os cuidados de enfermagem especializados como resposta à evolução das necessidades em cuidados de saúde”, produzido pelo INESC TEC para a Ordem dos Enfermeiros (OE).
Com a colaboração do CEGI - Centro de Engenharia e Gestão Industrial, os investigadores Mário Amorim Lopes, Sofia Cruz Gomes e Bernardo Almada-Lobo procuraram responder a uma preocupação deste grupo de profissionais em acompanhar a evolução nos cuidados de saúde, dotando-os de capacidades e ferramentas que, juntamente com o conhecimento, lhes permitam desempenhar as suas funções de forma mais eficaz.
De acordo com este relatório, há uma necessidade crescente de recursos humanos de saúde especializados, nomeadamente na área de enfermagem. Essa especialização poderá permitir reduzir os internamentos em cerca de 5%, o que, por sua vez, provoca impactos orçamentais significativos na ordem dos 18M€ por ano.
«Estima-se que o impacto orçamental desta medida, considerando o cenário no qual são disponibilizadas anualmente 1500 posições para enfermeiros especialistas, seja um benefício líquido médio de cerca de 18M€/ano. Este valor resulta da diferença entre um custo estimado de 63M€/ano, o que inclui o acréscimo salarial e os custos com o internato, e de um benefício estimado de 81M€/ano, resultante de uma poupança esperada de 5% nos internamentos hospitalares», pode ler-se no relatório.
Outros impactos positivos
Melhoria nos indicadores de saúde, de eficiência, de gestão e nos índices de satisfação pessoal dos profissionais. É desta forma positiva que o internato de especialidade pode influenciar os cuidados na área da saúde, além do claro benefício económico.
Outra conclusão deste relatório mostra que o internato de especialização em enfermagem é um instrumento adequado ao processo de desenvolvimento e valorização profissional e que, apesar do impacto orçamental decorrente, é largamente mitigado pelos benefícios decorrentes da implementação.
Segundo o relatório, a capacidade técnica e a competência clínica decorrentes da especialização são fatores de valorização do profissional, tendo em conta que «o reconhecimento do papel do enfermeiro especialista é também uma forma de minorar os efeitos negativos de uma força de trabalho desmotivada».
No fundo, a especialização dos cuidados de enfermagem contribui em larga escala para valorizar estes trabalhadores, na medida em que lhes confere a possibilidade de construir uma carreira profissional e incentiva à renovação contínua da sua formação.
Uma tendência internacional
A especialização em enfermagem é já uma tendência internacional incontornável. Um pouco por todo o mundo, o papel deste profissional é atualmente definido com base em tarefas avançadas ou especializadas, desempenhando funções específicas que ultrapassam os cuidados de enfermagem de âmbito mais geral.
O relatório do INESC TEC mostra que, segundo a OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, a implementação de políticas que promovam a especialização dos enfermeiros é uma tendência em crescimento, nomeadamente em países como a Austrália, o Canadá, os Estados Unidos da América, a Finlândia, a Holanda e o Reino Unido. Estas sociedades são exemplos em que a aposta na especialização do enfermeiro funciona como uma forma de responder aos desafios no setor da saúde, e com impactos diretos nos cuidados prestados.
Outros países, como por exemplo a Alemanha, a Áustria, a França, a Noruega, a Espanha ou a Suíça, estão em fase de implementação de programas de formação avançada, embora com a prática ainda limitada. Apenas em locais como Portugal, Dinamarca, Bélgica, Hungria, Itália ou Polónia esta função de especialista não faz ainda parte da estrutura organizativa das instituições de saúde.
A importância da classe
«Os profissionais de enfermagem asseguram uma parte muito significativa da prestação de cuidados da saúde, e são, como tal, uma peça fundamental em qualquer sistema de saúde», destaca a OE. A instituição refere ainda que o investimento no capital humano é fator essencial e necessário ao crescimento económico e social.
O número e a qualificação dos enfermeiros têm uma relação direta com a qualidade dos serviços prestados, desempenhando um papel decisivo na obtenção dos melhores resultados na área da saúde. Como tal, este estudo mostra que a especialização pode também ajudar no cumprimento dos objetivos primordiais definidos pelo Serviço Nacional de Saúde, nomeadamente «assegurar a proteção de saúde e garantir o acesso a cuidados a todos os cidadãos».
Os investigadores do INESC TEC mencionados na notícia têm vínculo ao INESC TEC e à UP-FEUP.