A REVOLUÇÃO SILENCIOSA
Vai decorrendo, no Porto, uma revolução silenciosa - daquelas que só faz sangue na História, e a História talvez não se recomende.
A História é a de muitas regiões e países, e tem de comum algo que dá muito sentido negativo, no entendimento popular, à tradição do conceito de académico: a pulverização, como corolário do primadonismo.
Belíssimo neologismo quem sabe acabado de inventar, o primadonismo descreve aquela atitude, tão comum quanto consentida, quiçá incentivada, pela estrutura e hábitos universitários: cada um é rei, ainda que de coisa nenhuma, e protege essa independência improdutiva com mais ferocidade do que gata os filhotes.
Para o sujeito impregnado de primadonismo, toda a aliança é outro que lhe faz sombra, toda a cooperação é menos foco no seu protagonismo pessoal. O primadonismo não tem sentido de bem coletivo, de conquista maior: o horizonte tem uma fronteira clara, que é a parede do seu laboratório, do seu grupo, da sua paróquia.
Ora o Porto apresenta vários sinais que evidenciam que algo de fundamental está a mudar, e bem. Que um rio silencioso, um novo Douro corre há anos subterraneamente e agora emerge com franca pujança.
Um deles é o continuado reforço de cooperação e colaboração multidisciplinar de unidades orgânicas e institutos associados à UP. Já começa a ser notado: o Porto está a construir um discurso inclusivo, de construção coletiva, juntando engenharias com medicinas, gestão, biologias, farmácia, humanidades. Mais: o Porto não está a ser exclusivista – as universidades no perímetro da Região Norte estão a aprofundar a virtude da colaboração construtiva, por oposição à rivalidade bairrista.Isso está por demais evidente em projetos que o N2020 vem contemplando.
Um outro sinal, mais monumental, é a constituição do I3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde: a inauguração da sua sede aí está para o demonstrar, que a força do Porto e da sua Universidade emerge sempre que triunfam as ideias agregadoras, construtoras de pontes por cima de vaidades pessoais.
Com dificuldades e contradições, que não convém negar mas sim identificar para lhes dar o remédio certo, o próprio conceito de união, subjacente ao I3S, é um triunfo psicológico enorme. Temos que estar orgulhosos e prestar homenagem aos nossos colegas visionários que conceberam esse caminho de convergência, juntando IPATIMUP, IBMC, INEB, FMUP, ICBAS, FCUP, FMDUP, FFUP e FEUP.
O INESC TEC, que à sua maneira tem também uma história de construir pontes (entre faculdades da UP, entre UP e IPP, UMinho e UTAD, entre Portugal e Brasil…) só pode ficar orgulhoso de conviver e viver no contexto destes sinais de transformação.
Aos grandes desafios, só com escala se responde.
Antes, cada um para seu lado e, agora, juntos.
Habituámo-nos a chamar isso de ganha-ganha.