O CHARME DISCRETO DO FUNDO DO MAR
A atividade inteligente das instituições regenera-se em permanência num compromisso entre a urgência de imagem e a necessidade de trabalhar em sossego.
A consciência da necessidade de ganhar credibilidade, influenciar decisões, adquirir estatuto coloca as organizações (e as pessoas dirigentes) em permanente vertigem de ânsia de comunicação.
Comunicar deixou de ser transmitir algo: passou a ser sinónimo de aparecer.
Porém, há inegáveis virtudes no trabalho discreto e persistente da formiga. Atravessando epifenómenos, é este labor que constrói, cava alicerces, ergue coisa sólida sobre as fundações.
Vêm estas reflexões a propósito da iniciativa TEC4SEA do INESC TEC. Chamamos a atenção para ela, porque se mantém não mediática: no ano dos 30 anos, podemos prometer que o INESC TEC vai assinalar um passo importante de Portugal a caminho da nova Índia que é a Atlântida.
A extensão da plataforma continental confere a Portugal uma soberania sobre 4 milhões de quilómetros quadrados de fundo oceânico. Metade do tamanho do Brasil. E o INESC TEC vai lá estar.
A iniciativa TEC4SEA, com passo firme, discreta o suficiente mas nem por isso irresoluta, visa dotar Portugal do domínio de tecnologias que permitam explorar, ocupar e operar no fundo oceânico.
Já não é apenas o achamento à superfície dos navegantes: mas há um novo Bojador, um novo Adamastor à nossa espreita e um novo Mostrengo que sai do abismo. Que são de palha, como os antigos, já sabemos – mas de que matéria se constitui o coração do homem e que vontade agora o ata ao leme?
Créditos Foto: Flickr (autoria de Yoann Jézéquel)