O Ausente mas Presente
Na portaria do INESC TEC a missão é basilar de segurança: a função não pode sofrer de ausências, o lugar não pode mostrar-se vago. É como a primeira guarda de um sistema imunitário: proteger o organismo contra intrusões hostis, facilitar a circulação aos que são reconhecidos como próprios.
Hoje, como ontem, está lá sempre alguém: cordato, atento, profissional. Exige-se atenção, rigor, simpatia em simultâneo – todo o estranho é potencialmente uma visita, um amigo, um cliente. A empresa do serviço terceirizado providencia os agentes, e nada pode falhar. Só o coração é que pôde.
Ele era excecionalmente querido. Um corpo franzino e uma simpatia permanente, todos lhe adivinhavam um enorme coração, ó ironia amarga que foi o coração que lhe falhou quando devia ter sido a sua força.
O destino vem na forma de tragédia quando sentimos que podia ter sido diferente, quando o grande Adversário joga em vários tabuleiros e conspira para evitar o socorro. Há uma certa raiva derivada da impotência, e há vontade de encontrar culpados: não é aceitável esperar uma hora por socorro, com o hospital a cinco minutos de distância.
Acode à memória John Donne, poeta-clérigo do século XV/XVI: a morte de cada homem diminui-me, porque eu faço parte da humanidade; eis porque nunca pergunto por quem dobram os sinos: é por mim.
O lugar na portaria está ocupado hoje como sempre, mas está vazio. Toda a morte é escusada mas definitiva. Fica a homenagem, que é de certa forma redentora: aquele homem que hoje nos falta permanece todavia em nós, porque nos mudou, deixou em nós uma marca boa.