Fora de Série
Este espaço destina-se a prestar homenagem a um colaborador que mensalmente se distinga com especial relevo na sua atividade. A escolha final é da responsabilidade da Redação do BIP mas a colaboração das Coordenações de todas as Unidades é preciosa pois as sugestões e motivações são fundamentalmente da sua responsabilidade...
GERMANO VEIGA
1. Integrou a Unidade de Robótica e Sistemas Inteligentes (ROBIS) há pouco mais de um ano. Esperava ser eleito “Fora de Série” nem período de tempo tão curto?
Sinceramente, não. E, pelo pouco que conheço da Unidade, existem muitos colegas a quem esta distinção seria muito bem entregue. Julgo que, para este reconhecimento, a questão dos projetos europeus foi preponderante.
2. Qual era a imagem tinha da ROBIS antes de integrar o INESC TEC?
Eu conhecia os grupos de robótica originais (grupos da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto – FEUP e do Instituto Superior de Engenharia – ISEP). No lançamento da ROBIS em 2009, e sendo eu do norte, andava atento e lembro-me de uma notícia que referia algo do género “grupos de robótica juntam-se e têm uma estratégia para o Brasil”. Na altura, esta mensagem ficou-me na lembrança porque apontava para dois vetores que eu considerava importantes para a robótica nacional: dimensão e orientação internacional.
O desenvolvimento posterior é notável, tendo a Unidade de Robótica se tornado rapidamente numa das referências no panorama nacional da robótica.
3. Antes da ROBIS (localizada no Porto), o Germano integrou grupos de investigação localizados em Aveiro, Coimbra e Lund, na Suécia. Quais são as diferenças culturais e de método de trabalho que existem entre estes diferentes grupos de investigação?
As diferenças são mais que muitas porque, para além das questões geográficas e culturais, os laboratórios tinham equipas de dimensões muito díspares e estavam ligados a áreas científicas diferentes: Eng. Mecânica, Ciência de Computadores e Eng. Eletrotécnica.
No que diz respeito ao INESC TEC (e à ROBIS em particular), gostaria de realçar a visão para o crescimento e a ambição que norteiam esta instituição, a qual está bem alicerçada numa boa estrutura de suporte administrativo que as Universidades têm mais dificuldade em ter. Se pudesse, juntava os horários e a produtividade sueca com a nossa criatividade e endurance.
4.Como foi a sua integração na ROBIS?
A minha integração foi muito boa. Fui muito bem recebido por todos os elementos da equipa do INESC TEC, e da ROBIS em particular. Parece que já trabalho na ROBIS há muito tempo!
5. Esta nomeação para “Fora de Série” vem no seguimento do seu contributo para a aprovação do projeto europeu CARLoS (CooperAtive Robot for Large Spaces manufacturing) e do projeto europeu STAMINA (Sustainable and reliable robotics for part handling in manufacturing automation) . Qual foi o maior desafio que a elaboração das propostas para estes projetos lhe colocou?
A redação de propostas para projetos europeus tem quatro componentes fundamentais: o conhecimento do enquadramento do Programa Quadro e a especificidade da call em causa; a ideia; a formação do consórcio e a redação da proposta. A primeira e a última são trabalhos sistemáticos, que, tal como um trabalho de casa, com tempo suficiente e alguma pressão acaba por sair. Já a ideia e a formação do consórcio são pontos onde é mais difícil garantir sucesso. Os anos de robótica ajudam a eliminar algumas más ideias de projetos e a rede de contactos é, obviamente, fundamental para o consórcio. Contudo, existe sempre uma grande imprevisibilidade.
6. Qual é a importância estratégica deste projeto para a ROBIS em particular e para o universo INESC TEC em geral?
Os dois projetos estão focados na área dos manipuladores móveis aplicados a processos industriais. Este tópico complementa bem o portefólio de projetos internacionais que a unidade já tinha, reforçando a posição da ROBIS como um laboratório de robótica de banda larga, isto é, com robótica aquática, aérea e terrestre (tanto na vertente industrial, como de serviços).
7. Com base na sua experiência profissional, como avalia a posição portuguesa no âmbito da I&DT mundial na área da Robótica?
A comunidade robótica em Portugal tem uma dimensão assinalável, o que é facilmente mensurável pela dimensão dos festivais de competições robóticas nacionais. O trabalho desenvolvido é de boa qualidade e parte da comunidade mostra um bom nível de cooperação internacional.
Na minha opinião, os pontos onde a robótica nacional tem de melhorar são a especialização e a consequência.
Nos últimos anos, tive contactos com muitos laboratórios Europeus e concluo que para os laboratórios pequenos (como são todos em Portugal) sobreviverem, têm de ter uma estratégia bem focada, por forma a aumentar o impacto do I&D desenvolvido. Quando falo em “consequência”, refiro-me ao reduzido número de empresas que se formam deste conjunto de laboratórios e ao impacto social que esta comunidade de I&D poderia ter no país, quer pelo emprego, quer pelas exportações. Aí, ainda há alguns passos a percorrer.
8. Imagina-se mais a enveredar por um percurso profissional na Indústria ou no Ensino Superior?
Parafraseando um treinador de futebol da nossa praça, eu diria que estou na minha cadeira de sonho (recordo que ele só esteve lá um ano!). Já tive a minha experiência no Ensino Superior e não me sinto atraído para voltar. Por outro lado, ao longo dos últimos 10 anos fiz muitos trabalhos em ambiente industrial e participei numa spin off. Em ambas as circunstâncias ficou cá dentro alguma vontade para voltar.
9. O que é que motiva um investigador sénior, como é o caso do Germano, a trabalhar no INESC TEC, mais concretamente na ROBIS?
A robótica é uma área científica em expansão acelerada, que tem vindo a evoluir de uma vertente predominantemente industrial para tocar em muitos setores da sociedade, tais como a área médica, a segurança, os transportes ou a automação doméstica (só para citar alguns exemplos). Deste modo, e como eu gosto de I&D e de robôs, trabalhar em robótica é um desafio permanente.
10. Terminaremos este breve questionário, pedindo que comente a seguinte citação da coordenação da ROBIS, que o nomeou para esta distinção.
Os coordenadores da ROBIS concordaram em propor o Germano Veiga pela sua rápida integração na Unidade, na equipa e em projetos já em curso e sobretudo pelo excelente desempenho na elaboração de propostas de projetos.
Este esforço culminou agora com a aprovação do projeto europeu CARLoS - CooperAtive Robot for Large Spaces manufacturing (Type of funding scheme: Research for SMEs) da qual foi o principal interveniente na elaboração da respetiva proposta.
Agradeço aos coordenadores. Conforme referi antes, a questão dos projetos europeus foi o meu principal objetivo na chegada ao grupo. Mas, sinceramente, dois projetos supera qualquer uma das minhas previsões.