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Um olhar sobre nós na voz dos nossos parceiros - Testemunho da Ambifood, pela voz de Artur Melo e Castro.

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"(...) ao posicionarmo-nos nas fronteiras de várias disciplinas, assumimos um constante questionamento dos seus métodos e princípios fundamentais, que tantas vezes são esquecidos na ciência, na arte e na vida.", Gilberto Bernardes (CTM).

Asneira Livre

"Num outro dia, ouvi sobre 'o puto que estava doente e levou uma pica no rabo' com uma naturalidade que me causou espanto, pois todas as palavras desta frase, no Brasil, são comprometedoras.", Solange Mazzaroto (CESE)

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Se é um leitor atento do Insólito, certamente a foto acima despertou-lhe curiosidade. Se é daqueles que só abre o BIP quando ultrapassa o número de artigos grátis do Público online, deve estar inquieto com a foto. Calma, o BIP explica.

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Asneira Livre

Os Portugueses

Por Solange F. Mazzaroto*

Desde que fui convidada para escrever o “Asneira Livre” deste mês, fiquei pensando que precisava de uma boa história para contar aqui. Mas como conseguir isso? Parece que quanto mais buscamos por algo, mais este algo nos escapa pelas mãos.

Será que histórias boas surgem do nada? Acho que sim, pois os melhores e mais marcantes acontecimentos da nossa vida são inesperados. Boas histórias surgem de situações simples e corriqueiras do dia a dia, que acontecem de forma inimaginável. Algumas delas, à primeira vista, nem parecem ser assim tão interessantes, mas quando paramos para refletir acabamos por nos surpreender.

E, assim, pensei por alguns dias sobre um tema que eu pudesse abordar aqui. Mas o tempo passou e agora preciso que uma história, boa ou não, surja mesmo do nada. Então, já que o foco é comentar uma “asneira”, surgiu a ideia de relatar um pouco das minhas impressões, desde cheguei a Portugal, já que todo estrangeiro se sente um pouco perdido e comete algumas “gafes” até se adaptar à nova cultura.

Como já puderem perceber, pela minha forma de escrever, eu sou brasileira e falo português, o meu idioma nativo. Sempre convivi com pessoas que falam português, mas, quando cheguei aqui, fiquei assustada. Eu sabia que o sotaque dos portugueses era diferente, fonemas mais fechados, mas que palavras são essas que eles usam, será que terei que aprender o português novamente? A diferença é tanta que alguns portugueses dizem que falo “brasileiro”.

Faz seis meses que estou no Porto e, aqui no INESC TEC estou integrada no Centro de Engenharia de Sistemas Empresariais (CESE), na área de Redes de Colaboração. O convívio diário com os portugueses deste Centro tem ajudado muito na minha adaptação, por isso acredito que já posso dizer algo sobre os nossos “portugueses”, do Brasil e de Portugal. Se você que está lendo este texto for brasileiro, até agora está tudo bem. No entanto, se for português, deve estar a pensar o motivo pelo qual esta gaja está a usar tantos gerúndios.

Bem, além de ter que diminuir a quantidade de gerúndios utilizados nos meus textos (menos neste), descobri que utilizo a letra “i” em quase todas as palavras que falo, pois os colegas do Centro riem muito quando eu digo “snackiii”, “bom diiia” e quando me refiro ao colega “Ericiiii”. Com certeza, existem muitas diferenças regionais pelo país, da mesma forma que no Brasil, porém as expressões mais comuns que tenho ouvido em todas as regiões são: “fixe”, “giro”, “piada”, “se calhar” e “pois”.

Tive de aprender a utilizar a palavra “comboio” ao invés de “trem”, “autocarro” e não “ônibus” e “metro” no lugar de “metrô”. Aprendi, também, que aqui eu uso “cueca” e não “calcinha”, mas no Brasil somente os homens usam cuecas! Um “terno” é um “fato” e existe uma variedade deles: “fato de banho”, “fato de treino”, e por aí vai. Para a prática de esportes, os portugueses utilizam “sapatilhas” e não “tênis”, mas no Brasil as sapatilhas são um tipo de sapato tipicamente feminino e sem salto.

Num outro dia, ouvi sobre “o puto que estava doente e levou uma pica no rabo” com uma naturalidade que me causou espanto, pois todas as palavras desta frase, no Brasil, são comprometedoras. Ouvi também que “punheta de bacalhau” é um prato, que qualquer mulher é uma “senhora”, uma “rapariga” ou uma “menina”, que um gajo muito “brega” é “azeiteiro”, que chegar perto é “ir à beira de”, que “não entender” é não “perceber”, que “aqui” é “”, que “dez para às nove” é “nove menos dez”, que “solzinho” é “solinho”, que “um pouquinho” é “um bocadinho”, que “açougue” é “talho”, que “escovar os dentes” é “lavar os dentes”, que “celular” é “telemóvel” ou “tlm” e que “gaita” não é apenas um instrumento musical!

Aqui eu como “arroz de feijão” e não “arroz com feijão” e os pratos, realmente, são diferentes. Para os portugueses, “você” é um pronome formal e o pronome “vós”, com todas as suas conjugações, é realmente utilizado, pois os brasileiros só o utilizam nas provas de gramática. Por isso sabemos conjugá-lo, ou pensamos que sabemos, já que depois dessas provas nunca mais ouvimos falar dele.

Os portugueses também amam futebol e existem muitos jogadores brasileiros por aqui. Mas para assistir a um jogo, tive que aprender que “goleiro” é “guarda-redes”, “gol” é “golo”, “pênalti” é “penalti” e “equipe” é “equipa”. Ao invés de “balas” eu adoro “rebuçados” e quando chupo muitos eu sou uma “lambona” e não uma “gulosa”.

De uma forma geral, o povo daqui gosta das novelas do Brasil, das nossas músicas e riem do nosso sotaque. Somos vistos como um povo alegre, descontraído e que gosta de festas.

Certamente, posso dizer que o mundo de cá ama o filho perdido que cresceu, pois nunca ouvi falar tanto no Brasil como ouço aqui. Portugal nos recebe e acolhe como irmãos, seja o povo lá de baixo ou o cá de cima, como se referem ao povo do sul e do norte do país. Que os brasileiros me perdoem, porém, até agora, não ouvi nenhum português dizer “raios” e nem “ora pois”, mas “Jaaasus” ouço sempre!

* Colaboradora no Centro de Engenharia de Sistemas Empresariais (CESE)