Pensar Sério
Da investigação ao mercado em 6 passos
por João Victor*
Desde que ingressei na Universidade do Porto sempre ouvi falar muito bem do INESC TEC e das investigações aqui desenvolvidas, especialmente na área de energia, minha formação de base. O que me chamava ainda mais atenção era essa relação próxima com a indústria e a sociedade para atender necessidades concretas, muitas vezes com apoio de fundos comunitário (ex. Portugal 2020, Horizon 2020). Fiquei maravilhado com este cenário favorável à inovação. Mas qual o real impacto alcançado por estes projetos? Conseguem ir além de seus protótipos e demonstradores?
Segundo Henry W. Chesbrough, autor do livro Open Innovation, é preciso “inovar a inovação”. O sucesso de uma nova tecnologia já não depende apenas de suas características e funcionalidades, sendo crucial o desenvolvimento de novos modelos de negócio que garantam sua sobrevivência a longo prazo. Uma tarefa árdua que exige sair do laboratório e se “aventurar no mercado”, envolver-se com os potenciais utilizadores e tomadores de tecnologia, perceber suas “dores” e expectativas… O autor ainda reforça que os consumidores devem participar na conceção do produto/solução, pois temos muito a aprender com eles. Isto também trará vantagens futuras na adoção pela tecnologia.
Daí você vem me perguntar: “João, como posso aplicar a ideia de ‘inovar a inovação’ nos projetos que estou envolvido aqui no INESC TEC?” Assim, vos apresento os 6 passos para desenvolver um Plano de Exploração, ferramenta que busca maximizar os resultados a longo prazo do projeto e que é usado pelas entidades avaliadoras como parâmetro do impacto do mesmo.
1) Equipa de Exploração
Tudo inicia com a definição de uma equipa dedicada a esta atividade, que faça a ponte entre o laboratório e o mercado. Deve ser capaz de envolver potenciais utilizadores e tomadores de tecnologia em busca de insights e cooperação durante o projeto, assim como estudar questões legislativas e tendências de mercado que facilitem a adoção da tecnologia.
2) Análise de Mercado
Nesta etapa deve-se compreender o potencial do mercado, suas tendências e barreiras, mapear os utilizadores-alvos e suas necessidades, tomadores de tecnologia, competidores, parceiros-chave… Ferramentas como Análises SWOT e PESTEL são recomendadas para compilar as informações obtidas traduzindo numa visão mais estratégica.
3) Definição do Conceito do Produto
Com base nos insights obtidos na etapa anterior, avançamos para a conceção da tecnologia. Perguntas mais práticas devem ser respondidas: qual a capacidade de memória da máquina onde irei integrar meu software? O sistema operacional é Microsoft ou Linux? Em quais funcionalidades devemos focar com base nas necessidades do utilizador? Entre muitas outras. E como dito anteriormente, incluir o consumidor como co-criador neste processo aumenta a taxa de sucesso e adesão no futuro.
4) Estratégias de Exploração
Vamos dar um exemplo: você acabou de inventar um carregador para veículos elétricos todo xpto (exemplo que temos no INESC TEC). Como garantir que esta sua tecnologia seja adotada amplamente no mercado? Como impedir que alguém copie esta ideia? Para isso são desenvolvidas estratégias de proteção intelectual e normalização. Você acha que a tecnologia que está a desenvolver poderia gerar uma patente, ser licenciada ou há interesse de aquisição por alguma empresa? Recomendo que busque o Serviço de Apoio ao Licenciamento (SAL), onde terá todo o suporte nos processos de proteção intelectual e transferência tecnológica.
5) Plano Financeiro
Agora vem uma parte muito importante: quanto dinheiro pode-se fazer com isso? Ponto determinante para se definir a viabilidade da solução em causa. Deve-se estudar diferentes modelos de negócio e definir aquele que potencializar seu retorno financeiro. Esta é a etapa para identificar como maximizar receitas, reduzir custos fixos, encontrar fontes de financiamento e montar planilhas de Excel.
6) Atividades de Disseminação
Não compramos aquilo que não conhecemos, verdade? Então, depois de tanto trabalho não queremos que tudo fique resumido a um protótipo no laboratório ou um demonstrador, certo? A partir de um bom plano de comunicação podemos alcançar de forma efetiva os consumidores finais, tomadores de tecnologia ou outros parceiros que desejem viabilizar nossa solução em larga escala.
Espero ter despertado vosso interesse em aumentar a proximidade com o mercado e envolver key-players ainda na etapa de desenvolvimento das soluções, garantindo resultados sustentáveis e de longo prazo. Que além do foco na inovação tecnológica, nos empenhemos em realizar estudos de mercado, proteção intelectual, planos financeiros e de comunicação. Dessa forma cumpriremos o nosso papel como technology transfer, transformando investigação em PIB.
* Colaborador do Centro de Sistemas de Energia (CPES)
Créditos imagem: Haivisio