Internet em alto mar para navios já é possível e tem assinatura do INESC TEC
Projeto MareCom chega ao fim
Comunicações sem fios de banda larga e com um custo baixo para navios – foi este o grande resultado conseguido através do projeto MareCom, que contou com a participação do INESC TEC, Wavecom, Centro de Investigação Naval (CINAV) da Marinha Portuguesa e da Ubiwhere.
Ao longo de 30 meses foi desenvolvida uma solução, agora testada com sucesso na Base Naval de Lisboa pela Marinha Portuguesa.
A solução desenvolvida, que é uma alternativa a comunicações via satélite e às tecnologias VHF ainda hoje utilizadas, permite servir as comunidades que operam em ambiente marítimo, tais como a Marinha, as frotas de pesca e os transportes marítimos, aumentando assim a sua inclusão digital, níveis de bem-estar a bordo e a eficiência e eficácia operacionais, através do acesso a novos serviços e aplicações.
“A solução tecnológica que desenvolvemos consiste numa caixa de comunicações que pode ser instalada em embarcações e estações de comunicações costeiras, juntamente com as antenas adequadas. Na demonstração final do protótipo da solução na Base Naval de Lisboa foram atingidos débitos binários superiores a 10 Mbit/s, muito acima dos valores típicos das comunicações via satélite e sem a latência elevada associada”, explica Rui Campos, coordenador da área de redes sem fios do Centro de Telecomunicações e Multimédia (CTM) do INESC TEC.
A solução desenvolvida baseia-se nas seguintes tecnologias: uma antena multissetorial, um novo mecanismo de gestão das comunicações em meio partilhado, um novo protocolo de encaminhamento para o estabelecimento de redes de comunicações entre embarcações e uma aplicação de partilha de conteúdos tolerante a ligações intermitentes.
A antena multissetorial consegue, de acordo com a orientação da embarcação em relação à estação de comunicações em terra, selecionar automaticamente o setor que maximiza a qualidade de ligação mar-terra. O mecanismo de gestão das comunicações garante o aumento de até 40% no débito binário da ligação sem fios face às soluções existentes e atualmente apenas usadas em ambiente terrestre. O novo protocolo de encaminhamento adequa-se às características específicas do meio marítimo e permite que cada embarcação possa funcionar como repetidor de sinal para aumento do alcance das comunicações a partir de terra. Por último, a aplicação de partilha de conteúdos permite às embarcações sincronizar conteúdos entre si e com um serviço centralizado, incluindo informação relacionada com a missão da embarcação, informação meteorológica e relatórios, dados e outra informação processada/gerada a bordo.
Solução desenvolvida foi testada com sucesso
Usando a solução desenvolvida foi possível realizar uma vídeo conferência com terra a partir de uma embarcação da Marinha Portuguesa a navegar no Estuário do Tejo e demonstrar uma aplicação de vídeo streaming HD em tempo real. Em cenário operacional, a solução desenvolvida poderá atingir alcances até dezenas de milhas da costa, quando usados níveis de potência de transmissão adequados e locais apropriados para a instalação das estações de comunicações costeiras. Atualmente, as soluções digitais em ambiente marítimo estão limitadas a comunicações celulares próximo da costa ou via satélite com custos elevados, elevada latência e débito binário ainda baixo.
Pode ser aplicada as várias áreas da sociedade
Imaginemos uma operação de busca e salvamento no mar onde as equipas de terra e de mar podem estar em contacto permanente usando as mais modernas aplicações multimédia. Este é apenas um dos exemplos de uma possível aplicação da tecnologia. A solução pode também ser aplicada ao setor das pescas e permitir explorar negócios em eólicas offshore e plataformas petrolíferas.
Há já várias entidades interessadas na solução
“A Marinha Portuguesa está muito interessada na solução para garantir comunicações de banda larga em zonas costeiras e na vizinhança dos portos do Continente e Ilhas. Têm também existido conversações exploratórias com os mercados da Índia e Cabo Verde para que esta solução seja explorada. Já houve contactos com o The Environment Research Institute (TERI), o National Institute of Oceanography (NIO) e o National Institute of Technology (NIT) Goa para explorar novos negócios através desta solução. O TERI está particularmente interessado em fazer um projeto de uma lota virtual”, refere o investigador.
O projeto MareCom foi financiado pelo Compete 2020, para o investimento realizado pela Wavecom, Ubiwhere e INESC TEC, e pelo Lisboa 2020, para o investimento realizado pela Marinha e pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional. O valor de investimento global do MareCom é de 1.005.402 euros, com um apoio comunitário de 651.423 euros.
O INESC TEC participou neste projeto através do CTM, representado pelos seguintes investigadores: Carlos Leocádio, Diogo Moreira, Erick Lima, Filipe Ribeiro, Filipe Teixeira, Hugo Santos, José Ruela, Luís Pessoa, Mário Lopes, Pedro Salazar, Rui Campos, Tiago Oliveira.
Os investigadores do INESC TEC mencionados na notícia têm vínculo ao INESC TEC e à UP-FEUP.