Deitado eternamente em berço esplêndido
Tão longe e tão perto, o Brasil está ligado a nós porque está em nós. Portugal não se pensa no mundo sem o Brasil na equação. Se temos um estádio de desenvolvimento (transitoriamente) superior e gostamos de nos orgulhar do povo que somos e História que temos, é o Brasil que confere verdadeiramente dimensão planetária à nossa civilização lusa – pela escala, pela dimensão geográfica, pela população, pela língua.
O Brasil não é Portugal, grande erro se comete quando tal se presume sem análise crítica – mas é dos nossos, é da família. Entre o Brasil e Angola se joga o Atlântico Sul – recordemos que Salvador Correia de Sá foi do Rio de Janeiro a Angola expulsar os Holandeses de Luanda, antes de os ir derrotar a Pernambuco, exibindo meridiana compreensão estratégica e estávamos no século XVII. Acertadamente, a materialização do AIR Center no século XXI, ideia inspirada de Portugal para o conhecimento científico do Atlântico, recrutou para o cerne das boas vontades construtoras esse Brasil imenso que credibiliza e pesa.
O Brasil tem um PIB per capita superior a alguns países da própria União Europeia, antes da crise estava ao nível da Hungria – não é coisa pouca – informação que é generalizadamente desconhecida, mas que, uma vez na consciência, reposiciona o nosso pensamento, despromove arrogâncias e desmonta ridículas superioridades primeiro-mundistas.
A crise do Brasil (sim, nós portugueses entendemos do assunto) está a fazer desaguar em Portugal um Amazonas de gente falante do português com açúcar, e o próprio sistema científico nacional está a ser impactado. Venham, dizemos nós, Portugal agradece e acolhe. Não somos o Eldorado, desiludam-se – mas somos uma quinta que acolhe os parentes necessitados e agradece pela contribuição que nos possam dar, Portugal precisa.
Estas razões são poucas, mas reais, para explicar a devotada atenção que prestamos à evolução política no país irmão. O INESC P&D Brasil, empreendimento virtuoso que o INESC TEC lançou em parceria com 14 universidades brasileiras, equivale já, em volume de negócios, a mais de 10% do volume do INESC TEC. Por isso, acompanhamos com atenção, com preocupação, com expectativa, com esperança, com tenacidade também, toda a transformação que no Brasil ocorre. O que a política mudar, no Brasil, em Ciência e Tecnologia, também impacta em nós – por isso, está o INESC TEC disponível, como sempre, para continuar a partilhar, a dividir a sua experiência e modelo de governação com os parceiros brasileiros, com as autoridades, agências, governos estaduais e federal.
A eleição do Presidente Bolsonaro representará uma mudança de paradigma no Brasil, relativamente às últimas duas décadas. O que esperamos que não mude, e se reforce, é o bom entendimento entre esse “gigante pela própria natureza, impávido colosso”, e Portugal.
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