INESC TEC promove encontro sobre tecnologias subaquáticas
Foi pela segunda vez que o INESC TEC, com o apoio do EIT Raw Materials (European Institute of Innovation and Technology) e da Infraestrutura TEC4SEA, organizou o Workshop IN THE BLACK’19, com o tema: “Exploration, Extraction and Construction Opportunities for Underwater Technology” (Oportunidades de Prospecção, Exploração e Construção para as Tecnologias Subaquáticas).
Os participantes, provenientes de diversas áreas (engenharia, geologia, biologia, robótica, digital, entre outras), anteciparam desafios e soluções para o desenvolvimento de geo-tecnologias subaquáticas.
A importância dos recursos minerais na Europa
As matérias-primas têm uma importância acrescida na sociedade em geral, nomeadamente na transição da economia verde, sendo fundamentais para atingir as metas estabelecidas pelas Nações Unidas na matéria de Mudanças Climáticas e Desenvolvimento Sustentável.
Ao mesmo tempo, a distribuição e consumo de metais, minerais e outros materiais são importantes na transição para uma Economia Circular. Além disso, as tecnologias emergentes de energia e mobilidade criam uma forte procura por matérias-primas.
No entanto, a Europa é altamente dependente do exterior em matérias de recursos minerais, tais como o cobre ou o níquel, importando cerca de cerca de 200 milhões de toneladas de minerais por ano. Por outro lado, não faltam minas na Europa com recursos ainda por explorar. O problema é que a maior parte das minas subterrâneas estão inundadas, a sua exploração é difícil e cara.
Para enfrentar esses desafios, será necessário projetar soluções mais inteligentes para o desenvolvimento sustentável. Segundo a CEO do EIT Raw Materials, Karen Hanghøj, a estratégia da própria Instituição para desenvolver tecnologias inovadoras, tem passado por apoiar projectos de Up-Scaling e apoiar Start-Ups na Europa.
Este cenário foi o ponto de partida para a realização de mais um workshop “IN THE BLACK” [http://www.strongmar.eu/site/in-the-black-2019-109], organizado pelo INESC TEC, no dia 27 de junho, no Instituto Superior de Engenharia do Politécnico do Porto (ISEP).
O workshop, organizado com o apoio do consórcio EIT Raw Materials e da infraestrutura TEC4SEA, focou-se nas tecnologias robóticas, sistemas autónomos, softwares de realidade virtual, inspeção de cabos, análise espacial, e a criação de bases de dados e cartografia sobre recursos minerais na Europa. Mas, em particular, convergiu para a mineração no mar, ambiente, aspetos legais e futuros desafios desta actividade como solução para suprimir a carência de matérias-primas na Europa.
A comunidade “IN THE BLACK” e as sinergias criadas para futuros desafios
Neste workshop “Exploration, Extraction and Construction Opportunities for Underwater Technology” foi traçado o cenário global das potencialidades do mar profundo, incluindo a mineração debaixo de água. Discutiram-se experiências reais, anteciparam-se desafios e foram lançadas ideias para novas soluções, algumas das quais o INESC TEC já se encontra a desenvolver.
“Além de fortalecer as relações entre os parceiros do EIT Raw Materials e reunir players nacionais e internacionais de inovação e mineração, o IN THE BLACK teve como objetivo redefinir futuras estratégias e parcerias em projectos. Este ano o tema é muito mais abrangente, aumentando a rede de parcerias e reforçando, cada vez mais, a comunidade IN THE BLACK”, explicam as investigadoras e organizadoras do evento, Ana Pires (ISEP / INESC TEC) e Paula Lima (INESC TEC).
No sentido de reforçar parcerias no tecido empresarial e industrial nacional e internacional, o evento teve início no Centro de Robótica e Sistemas Autónomos (CRAS) com uma mostra tecnológica, que incluiu os robôs UX1 e EVA, desenvolvidos no âmbito dos projetos europeus H2020 “UNEXMIN” e “VAMOS”, respetivamente.
A abertura da sessão coube a Stef Kapusniak's (Soil Machine Dynamics Ltd) e Karen Hanghøj, CEO do EIT Raw Materials, que logo no início deixaram todo o público “imerso” neste espírito do IN THE BLACK, que pretende estabelecer uma ponte entre as tecnologias subaquáticas e os recursos minerais.
O programa incluiu duas sessões e uma mesa redonda com palestrantes de vários países e diferentes backgrounds provenientes do mundo académico e científico, mas também da indústria, nomeadamente: Soil Machine & Dynamics Lta. (Inglaterra); Royal IHC (Holanda); Geological Survey of Ireland (Irlanda) e Geological Survey of The Netherlands|TNO (Holanda); LafargeHolcim (Alemanha); Denith Engineering SA (South Africa); BMT Group (Austrália); Lockheed Martin (Inglaterra); LNEG (Portugal); TUDelft (Holanda).
Discutiram-se temas relacionados com a economia circular, novas tecnologias para deteção e monitorização de cabos, sistemas de mineração em ambiente marinho, soluções de mapeamento e a sua aplicação subaquática, entre outros temas.
O encerramento coube a Michel Vanavermaete, Innovation Hub Director CLC West, EIT Raw Materials e Eduardo Silva, coordenador do CRAS e docente no ISEP que deixaram pistas para o futuro e enalteceram a importância deste tipo de eventos.
INESC TEC – pioneiros na mineração subaquática há 10 anos
Há já cerca de 10 anos que o INESC TEC identificou a necessidade de investir em tecnologias robóticas subaquáticas, para a exploração do fundo do mar mas também para o mapeamento de recursos geológicos.
O contributo do CRAS nesta matéria é actualmente reconhecido e evidente nos resultados e demonstrações dos projectos UNEXMIN (“An Autonomous Underwater Explorer for Flooded Mines” – relacionado com o desenvolvimento de um robot autónomo subaquático para minas inundadas) e VAMOS (“Viable Alternative Mine Operating System” – relacionado com o desenvolvimento de um sistema operacional e alternativo para mineração debaixo de água em pedreiras inundadas).
No entanto, no mar profundo ainda não há mineração. Portugal e França são países com potencial para a exploração de recursos minerais no subsolo marinho, mas o Oceano Atlântico é “um ambiente muito complicado”, afirma Eduardo Silva, que justifica: “O mar traz desafios acrescidos. Ao passo que em terra o ambiente é controlado (não há ondas, por exemplo), minerar no mar é mais complexo e energeticamente mais oneroso”, acrescenta.
Já a pensar nestes desafios futuros o INESC TEC submeteu dois projectos de Up-Scaling que foram financiados pelo EIT Raw Materials e que terão ambos início em 2020 com a duração de três anos, apresentando um consórcio constituído por vários países, com origem académica ou industrial.
O projecto UNEXUP é uma evolução do robô desenvolvido no projecto UNEXMIN, mas com o objectivo de o tormar mais operacional e com perspectivas de trazer um producto para o mercado mineiro.
O projecto INSite (Insitu ore grading system using LIBS in harsh environments) consiste no desenvolvimento de um LIBS (Laser Induced Breakdown Spectroscopy) portátil, aplicado a ambientes extremos, como são os ambientes subaquáticos e hiperbáricos, pensando numa possível utilização futura em mineração no mar ou minas submersas, baseado em espectroscopia de plasma induzido por laser.
“Estes dois desafios irão trazer muitas novidades e contribuir para o desenvolvimento da exploração de recursos minerais e cruzar até a fronteira do mar profundo!”, conclui Eduardo Silva.
Os investigadores do INESC TEC mencionados na notícia têm vínculo ao INESC TEC e ao P.Porto-ISEP.